Para o jornalista e comentarista do ICL Jamil Chade, Trump quer "uma nova posição dos EUA no mundo" com as medidas que vêm sendo tomadas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está destruindo todo um arcabouço tarifário construído por anos para “fazer a América grande de novo”, e o Brasil tem sido um dos alvos das mudanças nos regimes de tarifas para produtos importados pelos EUA. No entanto, ao contrário do que Trump vem alegando, quase metade das exportações norte-americanas para o Brasil chegam sem impostos.
Dados da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil), publicados em reportagem do g1, mostram ainda que, embora a tarifa média de importação brasileira para o mundo seja de 12,4%, o imposto médio efetivo sobre as importações norte-americanas é de 2,7%.
A diferença, segundo a entidade, ocorre porque grande parte do que o Brasil importa dos EUA é isenta de tarifas – aeronaves e peças, petróleo bruto e gás natural, por exemplo.
Outro aspecto é que, mesmo quando há uma alíquota vigente, existem regimes aduaneiros especiais (drawback, ex-tarifário e Recof, por exemplo), que reduzem ou até eliminam por completo a cobrança de tarifas dos itens trazidos dos EUA.
Todos esses mecanismos fazem com que mais de 48% das exportações americanas para o Brasil entrem sem tarifas, e outros 15% estejam sujeitos a alíquotas de, no máximo, 2%, segundo a Amcham.
Na quinta-feira (13), o presidente dos Estados Unidos assinou a ordem de implementação de tarifas recíprocas, mirando países que, segundo o governo americano, taxam excessivamente produtos dos EUA. Entre os produtos citados por ele, está o etanol brasileiro, produzido com cana-de-açúcar. A medida ainda levará alguns dias para valer, o que abre espaço para negociações entre os países.
Antes dessa, ele já havia assinado decreto sobretaxando em 25% as importações de aço e alumínio aos EUA, medida que também afeta o Brasil.
O governo Lula (PT) ainda estuda uma reação, mas deve buscar a via diplomática para evitar um confronto mais direto com os EUA, que é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. A balança comercial entre os dois país é favorável aos Estados Unidos, que exporta mais para cá do que o inverso.
A Amcham Brasil, uma entidade sem fins lucrativos, apontou a “necessidade de um diálogo construtivo entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos para buscar soluções negociadas e equilibradas” a respeito das tarifas comerciais.
“A relação econômica e comercial entre Brasil e Estados Unidos é equilibrada e benéfica para empresas, trabalhadores e consumidores de ambos os países. A alta complementariedade e o perfil intrafirma do comércio bilateral tornam os Estados Unidos um fornecedor confiável e competitivo para o setor produtivo brasileiro, assim como o Brasil para as empresas americanas”, avaliou a Amcham Brasil.
Dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) apontam para um saldo superavitário (mais exportações do que importações) de US$ 48,21 bilhões em favor dos EUA. Foram considerados 28 anos de comércio exterior.
Os números oficiais revelam, também, que o Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os Estados Unidos desde 2009, ou seja, nos últimos 16 anos. Nesse período, as vendas americanas ao Brasil superaram suas importações em US$ 88,61 bilhões.
O jornalista e comentarista do ICL Notícias Jamil Chade comentou na edição desta sexta-feira (14) do programa que o que Trump quer, no fundo, “é uma nova posição dos Estados Unidos no mundo”.
Jamil Chade no ICL Notícias 1ª edição. Crédito: Reprodução YouTube
Chade explicou que Trump ataca a “ordem internacional criada pelo Gatt [Acordo Geral de Tarifas e Comércio, na tradução para o português] logo após a Segunda Guerra Mundial”.
Esse regime, segundo ele, “vigorou durante 70, 80 anos, mas para o governo norte-americano já não funciona mais, porque ele [Trump] entendeu que, quando você coloca condições iguais para todos os países – iguais quer dizer justas – você tem um desenvolvimento menor”.
O Gatt definiu tarifas menores para países desenvolvidos e maiores para países em desenvolvimento com o objetivo de lidar com questões como a fome e a pobreza nas nações menos desenvolvidas, segundo Chade.
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