Paixão de Cristo de Nova Jerusalém e uma experiência de imersão e renovação.
Convidado a assistir ao maior espetáculo ao ar livre do mundo em pré-estreia, o Viver compartilha passo a passo da vivência na 'Galileia Pernambucana'
É começo da tarde e a imprensa está toda reunida para seguir viagem do Recife em direção a Fazenda Nova, distrito do município Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco, onde está localizado o maior teatro ao ar livre do mundo. Jornalistas e influenciadores são convidados todos os anos para uma sessão especial de pré-estreia do espetáculo que atrai todos os anos milhares de pessoas de todo o Brasil desde que foi mostrado ao público pela primeira vez, em 1951. E, uma vez que se avista as muralhas, entende-se a dimensão épica de sua fama.
Continua após a publicidade
 |
Foto: Rafael Vieira/DP |
A tarde vai indo embora enquanto a imprensa adentra a "Galileia Pernambucana", como chamam alguns locais, composta pelos opulentos e realistas nove cenários que dão vida às 13 cenas da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, criada pelo jornalista e diretor Plínio Pacheco. A réplica de Jerusalém, sonho nutrido ao longo de muitos anos por ele e por sua esposa Diva Pacheco (filha do influente empresário Epaminondas Mendonça, que começou tudo) se tornou realidade e orgulho para o estado, além de ser o destino turístico mais procurado do país durante a Semana Santa.
Marcada para começar às 18 horas, a peça sofre atraso de cerca de 45 minutos, após uma chuva intensa e ininterrupta pegar todos de surpresa. Sob raios e trovões que pareciam parte da orquestração gigantesca de efeitos especiais, mas já com o tempo estiado, começa o Sermão da Montanha, cena célebre de abertura da Paixão de Cristo, na qual Jesus é tentado pelo Diabo e, em seguida, realiza seus primeiros milagres.
 |
Foto: Rafael Vieira/DP |
Nos últimos dez anos, Jesus foi encarnado no espetáculo por Igor Rickli (nas temporadas de 2015 e 2016), Romulo Arantes Neto (2017), Renato Góes (2018), Juliano Cazarré (2019), Caco Ciocler (2020), Gabriel Braga Nunes (2022), Klebber Toledo (2023) e, no ano passado, pelo pernambucano Allan Souza Lima. Agora foi a vez de José Loreto fazer o papel, contracenando com Letícia Sabatella (como Maria), Leopoldo Pacheco (Pilatos) e Werner Schünemann (Herodes).
Com as luzes de cada cena apagadas, é hora da caminhada para o cenário seguinte. "Não precisa correr", diz o aviso no alto-falante. "A cena só irá começar quando todos estiverem acomodados", segue o anúncio. O curioso na Paixão de Cristo é que as pausas desse curto trajeto, que poderiam quebrar o clima da apresentação, são fundamentais na sua imersão. Tanto do ponto de vista geográfico, pela atmosfera grandiosa daquela Galileia minuciosamente reproduzida, quanto dramático. É como se caminhássemos junto a Jesus em sua épica e dolorosa jornada de martírio e salvação.
 |
Foto: Rafael Vieira/DP |
Nesta edição, em particular, parece que a natureza confluiu para o impacto maior. Não apenas a chuva intensa cessou precisamente durante o tempo de quase três horas de peça como os raios cortaram os céus repetidas vezes no clímax, quando Jesus é preso pelos romanos e brutalmente torturado, até ser condenado e crucificado ao lado de dois ladrões. A encenação é desconcertante e o sangue, o mais realista possível. Aos gritos (único som que não é dublado), Loreto deu vida à agonia do messias com notável visceralidade em toda a sequência final, embalado por um som bombástico de grande força sensorial.
Ao final dos agradecimentos, após a ressurreição, os fogos tomam conta e, então, a água volta a encharcar o solo árido do anfiteatro, encerrando a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. A noite de milagres não ficou só na ficção. É hora de voltar para casa com a esperança renovada.
 |
Foto: Rafael Vieira/DP |