Segundo o Exército israelense, na tarde de sexta-feira, pelo menos sete locais da maior cidade israelense foram atingidos pelo ataque com mísseis iranianos. O Exército também orientou a população a entrar nas áreas protegidas e permanecer lá até novo aviso. A maioria dos mísseis foi interceptada, mas alguns atingiram áreas urbanas.
De acordo com o New York Times, mais de 60 pessoas ficaram feridas, a maioria com pouca gravidade. Alguns casos foram mais graves, com diversos hospitalizados, e, segundo o jornal Times of Israel, uma mulher morreu.
“Um número limitado de prédios foi afetado, alguns deles como resultado de estilhaços das operações de interceptação”, disse o porta-voz militar israelense em árabe, Avichay Adraee, em um post no X.
Ameaça existencial
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que a campanha israelense tem como objetivo derrotar uma ameaça existencial do Irã, invocando o fracasso em deter o Holocausto na Segunda Guerra Mundial.
A operação de Israel “continuará por quantos dias forem necessários para eliminar essa ameaça”, disse ele em um discurso na TV.
“Daqui a algumas gerações, a história registrará que nossa geração manteve sua posição, agiu a tempo e garantiu nosso futuro comum.”
Trump: “Sabíamos de tudo”
Em entrevista por telefone à Reuters, Trump disse que não estava claro se o programa nuclear do Irã havia sobrevivido. Ele disse que as negociações nucleares entre Teerã e os EUA previstas para domingo ainda estavam na agenda, embora não tenha certeza se elas vão ocorrer.
“Tentei salvar o Irã da humilhação e da morte. Tentei poupá-los com muito afinco, pois adoraria que um acordo tivesse sido fechado”, disse Trump. “Eles ainda podem chegar a um acordo, no entanto, não é tarde demais.”
Mais cedo, Trump postou no Truth Social: “O Irã precisa fazer um acordo, antes que não reste mais nada”.
O assessor de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, disse que a ação militar por si só não destruiria o programa nuclear do Irã, mas poderia “criar as condições para um acordo de longo prazo, liderado pelos Estados Unidos”.
Líderes das principais potências europeias defenderam uma saída diplomática para a crise provocada pelos ataques aéreos de Israel contra o Irã. Britânicos, alemães e franceses defenderam uma desescalada no conflito. A Rússia, principal aliada de Teerã se ofereceu como mediadora.
O presidente russo, Vladimir Putin, condenou a série de bombardeios, segundo informou o Kremlin, após o mandatário conversar por telefone separadamente com o homólogo iraniano, Masud Pezeshkian, e com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Atmosfera
Os ataques de Israel ao Irã mataram 78 pessoas, incluindo altos comandantes militares, e feriram mais de 320, de acordo com o enviado da República Islâmica à Organização das Nações Unidas (ONU), Amir Saeid Iravani, nesta sexta-feira.
Duas fontes regionais disseram que pelo menos 20 comandantes militares iranianos foram mortos, operação impressionante que lembra os ataques israelenses que rapidamente eliminaram a liderança da milícia Hezbollah do Líbano no ano passado. O Irã também disse que seis de seus principais cientistas nucleares foram mortos.
Entre os generais mortos estão o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Major-General Mohammad Bagheri, e o chefe da Guarda Revolucionária, Hossein Salami.
O major-general Mohammad Pakpour, rapidamente promovido para substituir Salami como comandante da Guarda, prometeu retaliação em uma carta ao Líder Supremo lida na televisão estatal: “As portas do inferno se abrirão para o regime que mata crianças”.
Os iranianos descreveram uma atmosfera de medo e raiva, com algumas pessoas correndo para trocar dinheiro e outras procurando uma maneira de deixar o país em segurança.
“As pessoas da minha rua saíram correndo de suas casas em pânico, estávamos todos aterrorizados”, disse Marziyeh, de 39 anos, que foi acordada por uma explosão em Natanz. Enquanto alguns iranianos esperavam discretamente que o ataque levasse a mudanças na liderança clerical linha-dura do Irã, outros prometeram apoiar as autoridades.
“Lutarei e morrerei por nosso direito a um programa nuclear. Israel e seus aliados norte-americanos não podem tirá-lo de nós com esses ataques”, disse Ali, membro da milícia Basij, pró-governo, em Qom.
A capacidade do Irã de retaliar com armas disparadas por seus representantes regionais foi bastante reduzida no último ano, com a queda de seu aliado Bashar al-Assad na Síria e a dizimação do Hezbollah, no Líbano, e do Hamas, em Gaza.
Israel disse que um míssil disparado do Iêmen — cuja milícia Houthi é um dos últimos grupos alinhados ao Irã ainda capazes de disparar contra Israel — havia caído em Hebron, na Cisjordânia ocupada. O Crescente Vermelho Palestino disse que três crianças palestinas foram feridas por estilhaços no local.
O preço do petróleo bruto saltou devido a temores de ataques retaliatórios mais amplos em uma importante região produtora de petróleo, embora não tenha havido relatos de que a produção ou o armazenamento de petróleo tenham sido danificados. A OPEP disse que a escalada não justifica nenhuma mudança imediata no fornecimento de petróleo.
Autoridades israelenses afirmaram que pode levar algum tempo até que fique clara a extensão dos danos à instalação nuclear subterrânea de Natanz, onde o Irã refinou o urânio a níveis que países ocidentais dizem ser adequados para a confecção de uma bomba e não para uso civil.
O Irã tem insistido que seu programa nuclear é apenas para fins civis. O órgão de vigilância nuclear da ONU concluiu nesta semana que o Irã estava violando suas obrigações segundo o tratado global de não proliferação.
(com Reuters, Estadão Conteúdo e NYT)