Mirtes, mãe de Miguel, conversou com Diario sobre o seu drama, o protesto que organiza para esta segunda (2) e o desejo de que a ex-patroa Sarí Corte Real, condenada pela morte do seu filho, mas em liberdade, seja presa.
Recife, 2 de junho de 2025. Esta segunda-feira não é apenas mais um dia na vida de Mirtes Renata Santana de Souza. Na verdade, há cinco anos, a vida dela mudou radicalmente. Seu filho, Miguel Otávio Santana da Silva, morreu após cair do nono andar de um dos prédios das conhecidas “Torres Gêmeas” do Recife, no bairro de São José.
Mais de 1.800 dias depois do trágico fim da breve vida do pequeno Miguel, que tinha apenas 5 anos à época, sua mãe ainda continua lutando por justiça. Nesta tarde, Mirtes estará em um ato em frente ao condomínio onde o filho morreu, protestando pela demora nas conclusões da Justiça. Atualmente, Sarí Corte Real, ex-patroa da mãe de Miguel e condenada pela morte da criança, encontra-se em liberdade.
“Para mim não é nada fácil fazer essa construção (do ato), as lembranças, tudo mais, não é fácil fazer. Tenho um sentimento de tristeza por não estar com o meu filho, tenho que estar relembrando tudo. Mas hoje eu vou estar de pé, erguida, lá na frente das Torres Gêmeas, protestando com relação à morosidade do Judiciário, marcar esse momento da passagem do meu filho. O que me mantém de pé é o amor que eu tenho pelo meu filho”, disse, emocionada.
Sarí foi condenada, em 2022, a oito anos e seis meses de prisão, por ter deixado Miguel sozinho no elevador. Em novembro de 2023, a pena foi reduzida para sete anos, após ela ter recorrido da decisão. Ela continua em liberdade, após recorrer novamente na justiça.
“O sentimento é de revolta, pelo fato que o Judiciário não dá a atenção devida ao caso do meu filho. Após praticamente um ano e meio, após o julgamento do recurso em segundo grau, que manteve a condenação de Sarí, mas infelizmente reduziu a pena. O Judiciário está com um processo praticamente parado”, relata Mirtes.
Mirtes esteve no último dia 9 de maio no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), para cobrar respostas sobre a celeridade do processo. Ela explica que se sente desrespeitada pela maneira como os trâmites têm acontecido, e que, para ela, tudo tem ligação com a influência da família Corte Real, de Sarí, e Hacker, o marido dela, ex-prefeito de Tamandaré, no Litoral Sul.
“Não era para ser assim, só se movimentar quando tá próximo de fazer aniversário de morte do meu filho. E é o sentimento de tristeza, de revolta, essa falta de respeito que eles têm comigo, principalmente com a memória do meu filho. Ela tá tendo o privilégio da lei estar agindo da forma correta com ela, de ela poder recorrer, tá podendo recorrer em liberdade, enquanto para outras pessoas o Judiciário não age dessa forma”, relatou.
Mirtes também fala que o processo tem sido confortável para Sarí. “A culpada pela morte do meu filho está vivendo na vida dela, como se nada tivesse acontecido, fazendo faculdade, passeando no shopping, viajando de avião, vivendo. Essa demora judiciária está sendo extremamente confortável para ela”, continuou.
Apesar de lutar contra um grande sistema, Mirtes disse ao Diario que tem esperança em ver a justiça pelo filho ser feita.
Eu sempre tive esperança de que a justiça vai ser feita. Infelizmente, há esses empecilhos, essa demora, mas eu tenho esperança, sim, que a justiça vai ser feita, não só a condenação de Sarí, mas também a prisão. Enche o meu coração mais ainda de esperança para que isso se concretize. Tem que ter fé e seguir”, expressou.
Em 2024, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT6) determinou que o casal Sarí e Sérgio deveriam indenizar Mirtes e sua mãe, ambas funcionárias da família, no valor de R$ 500 mil para cada. Cinco meses após a decisão, a indenização foi suspensa pelo Superior Tribunal de Justiça. Até agora, a família de Miguel não recebeu indenização alguma.
“A ação que tava em andamento, eles conseguiram parar, dizendo que o mesmo objeto da ação trabalhista era o mesmo da ação cível e não são. Disseram que a Justiça do Trabalho não tinha competência para julgar a morte do meu filho, mas o entendimento do juiz e dos desembargadores é de que a Justiça do Trabalho tem competência. Miguel morreu no meu ambiente de trabalho, onde ele estava sobre os cuidados da empregadora”, explica.
Mirtes explica que esse lado do processo é importante, mas que o foco é em ver Sarí arcando com sua condenação.
“Meu foco maior é na ação penal, não que eu vou deixar para lá essa questão da ação trabalhista civil, não. Infelizmente, está demorando muito, mas meu foco maior é na penal. É pela combinação em prisão de sentença de (Sarí) Corte Real. É questão de interesses, de influência também, como a gente bem sabe, com relação às famílias Hacker e Corte Real.
A memória segue viva
Nessa luta que se arrasta há quase cinco anos e que ainda não parece ter fim, Mirtes conta que sente a presença do filho e que continua lutando pelas memórias com ele, no breve recorte de vida que tiveram juntos.
“Infelizmente, foi um período muito curto que a gente passou junto, mas foi tudo muito intenso. Eu tenho muito orgulho de ser mãe de Miguel. Ele me ensinou muita coisa enquanto estava do meu lado e só fica a saudade, que não é pouca”, disse.
Convivendo com o luto e a luta nesses últimos anos, Mirtes deseja ver a justiça feita para conseguir ter paz .
“A única coisa que eu espero, é que o caso do meu filho se resolva, que eu possa ter um pouquinho de paz, ter aquela sensação de missão cumprida. Que enquanto mãe do Miguel, de que a justiça foi feita. É isso que eu espero”, contou.
Sobre o ato
O ato de protesto em alusão aos cinco anos da morte de Miguel Otávio Santana da Silva acontece nesta segunda (2), às 15h, em frente às Torres Gêmeas do Recife, no bairro de São José. A manifestação deve seguir, por volta das 16h, em caminhada até o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Relembre
Miguel Otávio Santana da Silva morreu em 2 de junho de 2020, durante o lockdown da pandemia de COVID19, após cair do nono andar de um dos prédios das famosas Torres Gêmeas do Recife, no bairro de São José. A mãe dele, Mirtes Renata, trabalhava à época para a família de Sarí Côrte Real e Sérgio Hacker.
Momentos antes da morte de Miguel, Mirtes desceu do edifício para passear com o cachorro da patroa. Miguel ficou sob os cuidados de Sarí, que fazia as unhas em seu apartamento. O garoto pediu pela mãe, e Sarí o deixou no elevador da unidade e apertou o botão da cobertura.
Miguel desembarcou um tempo depois no nono andar, de onde caiu de uma altura de 35 metros. Ele não resistiu aos ferimentos e faleceu. Desde então, sua mãe continua buscando por justiça.
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