“Trump, me perdoe, mas você está ‘Dilmando’”, diz Sr. Mercado.
O que você realmente quer, Mr. Donald, é colocar o mundo na mesa para conversar com você, sob seus termos.
Donald, o mundo não costuma enxergar o plágio como algo louvável. Eu entendo toda a sua aptidão e intimidade com as “telinhas”, mas não consigo afirmar com segurança que tratar a Casa Branca como um reality show seja uma boa ideia.
Sei que a minha opinião não importa, afinal, sou a consciência imaginária que traduz as vozes dos preços do mercado em linhas nesta coluna. Talvez eu nem entenda totalmente o que você planeja, talvez a ideia de que alguém sabe realmente para tudo isso vai caminhar seja um mero produto da arrogância.
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Redefinir o que o mundo entende como ocidente desde 1945 é mexer em placas tectônicas geopolíticas que estavam adormecidas há muitos e muitos anos. De lá para cá, a sociedade segue com os mesmos vícios, apenas largando (ou não) os fuzis no chão para trocar suas armas e enfrentar uma nova batalha.
Não será pelo ar, pelo mar, ou pela terra. Vivemos num campo digital, planilhado, cheio de números – essa guerra deixou de ser bélica para ser comercial.
As tarifas são um instrumento de compensação, de reciprocidade. No entanto, o que você realmente quer, Mr. Trump, é colocar o mundo na mesa para conversar com você, sob seus termos.
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O Brasil mostra sua irrelevância na discussão global até nos conflitos. Para você, caro(a) leitor(a), que estava preocupado(a) conosco, pode relaxar, passamos praticamente ilesos, dado que tarifamos os EUA de forma relevante, mas nossa balança comercial fica empatada e isso incomoda menos o topete loiro mais famoso do mundo.
Porém, outras geografias vão sofrer. Façamos uma reflexão: se, isto é, de fato uma guerra, mas da era moderna, quem vai vencer?
Numa guerra, não vence o mais forte, o mais poderoso, o mais rico. Vence quem desiste por último.
As tarifas vão machucar as economias em maior e menor escala, vão afetar relações, termos de troca. Essa novela vai se arrastar até um dos lados ceder – Trump vai levar a 0% todos que fizerem o mesmo.
Os EUA são principais clientes de muitos produtos e serviços do planeta, e vale sempre lembrar: o cliente é o único CEO, tem sempre razão e ele te demite quando quiser. Taxações em produtos que você “precisa” fazem parte de uma conversa, agora taxar o que se “quer” é outra completamente diferente.
Deixando isso de lado, com problemas de inflação persistente, juros altos frente o seu histórico, fiscal terrível e com problemas de gestão da dívida pública, um presidente que é polêmico em suas falas. Os EUA estão “brincando” de país emergente, inclusive copiando boas práticas desse mundo:
1. Corte de impostos para classes econômicas mais baixas e aumento de tributos para as mais altas;
2. Mudança constante nas “regras do jogo”, como o próprio “tarifaço”, por exemplo;
3. Tarifas altas de importação para o consumidor final.
Comportamento comum entre emergentes, inclusive latinos, como o próprio Brasil – sem juízo de certo ou errado, apenas expondo os fatos. Já que não sabemos exatamente até onde vamos com essa série, a volatilidade é a única certeza em meio ao grau de incerteza que cresce na mente de todos. Pelo menos podemos concluir comicamente que exportamos algo para os EUA – Trump, você está (até certo ponto) dando uma “Dilmada”.