Na presidência transitória do bloco, Brasil defende a interligação de sistemas de pagamento entre os países do bloco para fomentar comércio e investimentos
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (13) que os países do Brics poderiam enfrentar sobretaxas de 100% “se quiserem brincar com o dólar”. “Se alguma negociação for concretizada, será uma tarifa de 100%, pelo menos”, disse ele em resposta a uma pergunta sobre o tema.
O Brics, fórum que reúne originalmente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, estudava criar uma moeda alternativa ao dólar em suas negociações para fugir da volatilidade da moeda norte-americana.
Em viagem à China em 2023, o presidente Lula (PT) afirmou que os países poderiam também usar as próprias moedas nas relações comerciais, sem utilizar o dólar, “e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso”.
“Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? E por que não temos o compromisso de inovar?”, questionou. “Por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade?”, insistiu Lula.
Trump disse ainda que “Brics morreu no momento que eu mencionei isso [sobretaxação]”, afirmou. “Se eles brincarem, não terão comércio conosco”, insistiu. “O que vocês acham que vai acontecer?”, questionou.
A avaliação dos países do bloco é que a padronização do uso do dólar faz com que os EUA se imponham em negócios internacionais, mesmo que não estejam envolvidos diretamente.
A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff, criticou o que ela classificou de “uso do dólar como arma”, durante a Cúpula do Brics, realizada em Kazan, na Rússia.
Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se uniram ao bloco como membros permanentes Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.
O governo brasileiro, que ocupa a presidência transitória do Brics, anunciou no mês passado que a Indonésia é o primeiro membro pleno a ingressar no Brics em 2025.
O PIB (Produto Interno Bruto) dos membros plenos representa hoje 31,5% de todas as riquezas produzidas no mundo. Além disso, abrigam 45,2% da população mundial.
O governo brasileiro deve descartar a criação de uma moeda alternativa ao dólar no Brics, mas defende a interligação de sistemas de pagamento entre os países do bloco para fomentar comércio e investimentos. Com isso, será priorizado o uso de moedas locais como alternativa ao dólar.
A proposta será defendida pelo Brasil durante sua presidência transitória à frente do bloco, e tem o objetivo de estimular novas tecnologias e promover o barateamento dessas operações, apoiando-se em padrões compatíveis com os desenvolvidos por organismos multilaterais mais amplos, como o BIS (Banco de Compensações Internacionais).
Segundo informações de reportagem da agência Reuters publicada no site Brasil 247, uma moeda comum nunca esteve sob consideração nas discussões técnicas do grupo.
A ideia dos países é usar novas tecnologias, incluindo blockchain, para reduzir custos de transação, e uma potencial menor dependência do dólar seria uma consequência da investida, e não sua motivação.
“A narrativa de reduzir custos, de ser mais eficiente no custo de transação, não é contra ninguém”, disse uma das fontes ouvidas pela Reuters. “Ninguém quer criar confusão”, afirmou.
Menções à ideia ganharam tração após o Ocidente ter imposto pesadas sanções à Rússia em resposta à guerra na Ucrânia.
Recentemente, o presidente Lula defendeu o “direito de discutir a criação de uma forma de comercialização [para] que a gente não dependa só do dólar”.
Nos últimos dias, o ministério da Fazenda e o Banco Central do Brasil discutiram as propostas que serão levadas ao Brics pela presidência brasileira neste ano, incluindo o tema dos pagamentos transfronteiriços. Procurados, ambos não responderam a um pedido por comentário.
Representantes do grupo se encontrarão na África do Sul no fim de fevereiro, às margens das reuniões do G20 (fórum internacional que reúne os 19 países mais ricos do mundo, mais União Europeia e União Africana), quando o plano será apresentado aos pares pelo Brasil, disseram fontes ouvidas pela agência de notícias.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse na quinta-feira (6) que o Pix tem potencial técnico para ser integrado a sistemas internacionais de pagamentos instantâneos. Ele ainda comentou que a confiança e a adesão em massa da população brasileira ao sistema de transferência monetária e pagamento instantâneo foram fundamentais para que o Pix se firmasse como o meio dominante nas transações entre pessoas físicas no Brasil.
As falas ocorreram durante participação de Galípolo em conferência do Banco de Compensações Internacionais, na Cidade do México.
“A integração financeira tem sido uma prioridade da agenda de inovação que o Banco Central do Brasil vem implementando nos últimos anos”, disse Galípolo. “A inovação principal é o nosso sistema de pagamento instantâneo, o Pix. Pessoas do Banco Central são acusadas justamente de ficarem falando muito sobre o Pix, nós gostamos de falar dele”, ironizou o chefe da autoridade monetária.
O Brasil já tem um Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) administrado pelo BC em convênios firmados com os bancos centrais de Argentina, Uruguai e Paraguai, que permite que pagamentos sejam efetuados diretamente em reais, sem a necessidade do dólar como moeda intermediária e, portanto, de contrato de câmbio para executá-las.
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