Descoberta que PMs faziam segurança de Gritzbach se deu durante depoimento de empresário em audiência no tribunal do júri.
São Paulo — O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse nesta segunda-feira (11/11) que os policiais militares que faziam a segurança de Antônio Vinícius Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos, já eram investigados pela Corregedoria da PM em razão do serviço prestado ao empresário, réu por homicídio e acusado de lavar dinheiro para a facção.
De acordo com Derrite, a descoberta de que havia PMs fazendo a segurança de Gritzbach se deu a partir de uma audiência de instrução do tribunal do júri. O inquérito policial militar foi instaurado em outubro.
“Quando esse réu por duplo homicídio foi ser ouvido na audiência de instrução do tribunal do júri da Barra Funda, um PM que fazia escolta dos réus nas audiências achou estranho a postura dos seguranças dele [Gritzbach], parecia de policiais. Ele então registrou fotograficamente e fez uma denúncia na Corregedoria”, afirmou.
“Os PMs terão que explicar o que faziam, porque o simples fato de realizar um serviço extra corporação já configura uma contravenção disciplinar, que não é permitida. Além disso, estavam fazendo isso para um indivíduo criminoso”, disse o secretário.
Os quatros policiais militares foram afastados e são investigados por suspeita de envolvimento no homicídio. Eles tiveram os celulares apreendidos.
Segundo o secretário, o IPM sobre policiais envolvidos na segurança privada de criminosos envolve outros PMs.
Guilherme Derrite afirmou que o Ministério Público compartilhou, em outubro, trechos da delação de Gritzbach em que ele cita uma série de policiais civis que teriam participado de extorsões.
A partir disso, um procedimento foi instaurado na Corregedoria da Polícia Civil. Gritzbach foi o primeiro a ser ouvido, em 31 de outubro.
Segundo o secretário, se o Ministério Público tivesse compartilhado os trechos da delação antes, medidas poderiam ter sido tomadas há mais tempo.
“A primeira atitude da Corregedoria da Polícia Civil foi ouvir o Vinícius para que ele pudesse apontar ali os nomes e quais práticas delituosas e quais desvios de conduta esses policiais civis teriam cometido”.
Derrite não soube informar se os policiais civis mencionados já teriam sido afastados.
Antônio Vinícius Gritzbach, de 38 anos, foi morto com tiros de fuzil após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na última sexta-feira (8/11). Homens encapuzados desembarcaram de um carro na área de embarque e desembarque e começaram a atirar. Além do empresário, o motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais morreu.
Quatro policiais militares eram responsáveis pela segurança de Gritzbach no momento do ataque. Todos estão afastados e são investigados pelo crime. Eles serão ouvidos novamente nesta segunda-feira (11/11).
Nos primeiros depoimentos prestados, eles disseram que, momentos antes do ataque ao empresário, pararam em um posto de combustíveis para lanchar, enquanto aguardavam a chegada do empresário, que voltava de uma viagem a Maceió.
Segundo eles, quando decidiram ir em direção ao aeroporto, uma das caminhonetes em que estavam não funcionou. Apenas um dos PMs teria ido até o local.
Gritzbach fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), homologado pela Justiça neste ano.
Em seu relato, ele fala sobre lavagem de dinheiro para personagens como Anselmo Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, e Claudio Marcos de Almeida, o Django. Eles foram sócios da empresa de ônibus UpBus, que opera linhas na zona leste da capital e está sob intervenção da prefeitura paulistana após ter sido alvo de uma operação por suposta ligação com o PCC.
Executado em dezembro de 2021, Cara Preta era membro do alto escalão do PCC e, sobre ele, recaía a suspeita de manter movimentações de até R$ 200 milhões. Investigadores atribuem a morte dele a Gritzbach, em razão de um desentendimento entre os dois. Segundo o MPSP, o empresário teria mandado matar o traficante após ser cobrado por uma dívida em um investimento em bitcoins.
Quando foi preso e antes de fazer delação premiada, em 2022, Gritzbach afirmou ter conhecido Django e Cara Preta como bicheiros e agentes de atletas de futebol. Ele negou ser o mandante do crime.
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