Tonia falou ao InfoMoney horas antes do anúncio da demissão de Carlos Lupi. Procurada, a advogada não quis comentar a saída do ministro, mas disse que mantinha as respostas.
Confira a entrevista de Tonia Galleti ao InfoMoney:
InfoMoney- Você foi a primeira a alertar o INSS sobre as irregularidades. Mas naquela época vocês tinham a dimensão de tudo que estamos vendo hoje?
Tonia Galleti- Na verdade, de algum modo sim, pois já observávamos o crescimento de algumas associações que saiam de zero sócios para 180 mil, de 180 mil para mais de 200 mil. Era uma loucura o crescimento dessas associações. E nós, que estamos nesse meio há muitos anos, sabemos muito bem que não é uma tarefa fácil e simples fazer sócios. Ainda mais tantos sócios em tão pouco tempo. Nós tínhamos sim a dimensão do problema, embora, obviamente, não conhecêssemos o problema todo.
IM- Em 2023, quando vocês fizeram a denúncia, imaginavam que duraria tanto tempo para se levantar informações sobre os desvios?
Tonia Galleti- Esperávamos que fossem mais rápidas as medidas, seja para levantar informações ou para sanar o problema. Embora seja um problemão, não imaginava que iria levar tanto tempo.
IM- Vocês fizeram denúncias em outras instâncias além do Ministério da Previdência, como Polícia Federal ou Ministério Público?
Tonia Galleti- As denúncias não foram feitas formalmente. Apenas alertamos o Ministério da Previdência, o INSS e no Conselho Nacional da Previdência Social.
IM- Quais os prejuízos para o governo, beneficiários e para instituições que trabalhavam corretamente?
Tonia Galleti- Os prejuízos são incomensuráveis. Primeiro à imagem daqueles que trabalham honestamente. Hoje todas as pessoas que trabalham com isso por meio de sindicatos e associações estão sendo estigmatizadas como golpistas e todos os outros adjetivos que temos visto.
Os outros prejuízos são para os próprios beneficiários que deixarão de ter todos os serviços e benefícios ofertados pelas entidades corretas. Por exemplo, no Sindnapi os sócios poderão ficar sem a cobertura do seguro de vida, do seguro funeral. São em média 500 sócios que morrem por mês. Serão 500 famílias que não serão assistidas. De fato, é um prejuízo bastante grande.
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IM- Você já tem alguma ideia do que acontecerá com a eliminação dos descontos para as entidades que atuavam corretamente?
Tonia Galleti- Não acredito que a suspensão será definitiva até por uma questão de justiça e de equilíbrio. O Estado não pode impedir o processo associativo e representativo. É claro que diretamente ele não está obstaculizando o processo associativo, mas pela dificuldade em se cobrar mensalidade por outra forma, sim, é isso que acontecerá. E nós acreditamos muito no senso de equilíbrio e justiça dos órgãos de controle e do próprio INSS para sanar esse problema sem necessariamente prejudicar a todos.
IM- Quais as possíveis saídas para esse problema?
Tonia Galleti- São algumas saídas. Uma é ter regulamentação mais firme e dura para que as entidades sérias possam trabalhar. A gente sabe que medidas duras dificultam o trabalho, mas não impedem quem faz honestamente. Implantar uma revalidação, fazer um plano de conduta para que todos se adequem, e voltar o pagamento dos beneficiários que querem ser sócios e pagam suas mensalidades. São muitas as medidas possíveis que precisam ser conversadas, negociadas para que a gente possa chegar a um bom termo.