Parceria estratégica com o Brasil, retomada do acordo União Europeia-Mercosul e combate firme ao extremismo marcam o plano do governo a ser formado por conservadores e centro-esquerda.
De BERLIM | A Alemanha se prepara para uma nova fase política com a formação de um governo de coalizão entre o União Democrata-Cristã (CDU), da ex-chanceler Angela Merkel, e o Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz. O CDU, legenda conservadora, venceu a eleição antecipada de fevereiro, enquanto o SPD, de centro-esquerda, ficou em terceiro lugar.
O acordo, apresentado oficialmente nesta quarta-feira (10) e intitulado "Responsabilidade para a Alemanha", sela a aliança entre os dois principais partidos do país e deverá conduzir o conservador Friedrich Merz ao cargo de chanceler federal no início de maio.
O texto ainda precisa ser ratificado pelas bases dos dois partidos. Em seguida, Merz será submetido à votação no Bundestag (parlamento alemão) para assumir formalmente o posto equivalente ao de primeiro-ministro.
Entre os pontos de destaque do acordo de 146 páginas está o reconhecimento do Brasil como parceiro estratégico na política externa alemã.
“Queremos intensificar e aprofundar as relações estratégicas com o Brasil”, afirma o documento, que também estabelece o objetivo de "ampliar as cooperações econômicas, ambientais e tecnológicas" com países-chave fora da Europa.
O texto amplia o escopo das relações internacionais ao apontar a América Latina e o Caribe como regiões de interesse especial para parcerias. Nesse contexto, a coalizão defende uma rápida ratificação do acordo União Europeia–Mercosul, considerado um dos compromissos centrais da nova agenda diplomática.
“A ratificação do acordo UE-Mercosul é um passo necessário para o fortalecimento da presença europeia na região”, destaca o trecho. O pacto também reforça o empenho em concluir o tratado comercial com o México e promover novas negociações com países africanos e asiáticos
Apesar do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) ter conquistado 20,8% dos votos na eleição antecipada de fevereiro e se tornado a segunda maior força política do país, ele foi excluído da coalizão.
"Mostramos tolerância zero com o extremismo de direita e outras formas de extremismo", diz o documento da coalizão entre conservadores e sociais-democratas.
O AfD, cujos membros já tiveram ligações comprovadas com grupos neonazistas, segue sendo monitorado pelo serviço de inteligência alemão. A exclusão do partido do novo governo mantém vivo, ao menos por hora, o princípio do Brandmauer, o "cordão sanitário" estabelecido por partidos tradicionais no pós-guerra para isolar forças antidemocráticas.
A política migratória é outro eixo central do novo governo. A coalizão promete, em resposta a uma demanda que levou ao crescimento da extrema direita, "acabar em grande medida com a migração irregular".
Entre as medidas anunciadas estão:
Apesar disso, o texto afirma que a Alemanha continuará sendo um país de acolhida, mas com critérios mais claros e foco na migração qualificada.
Além da política externa e da migração, o acordo CDU-SPD prevê diversas medidas para enfrentar a recessão econômica, fortalecer a defesa nacional e modernizar o Estado. Entre os principais pontos estão:
Friedrich Merz, que deverá ser eleito chanceler federal pelo Bundestag em 7 de maio, declarou que a nova coalizão representa um "novo começo" para a Alemanha.
"Concluímos um bom acordo de coalizão. Agora precisamos reativar nossa economia, preservar empregos, criar novos e facilitar os investimentos na Alemanha. Esta é a única maneira de fazer nosso país avançar novamente", declarou.
Com 328 cadeiras no Parlamento, a aliança entre CDU e SPD possui maioria para governar com estabilidade, mesmo em um cenário de fragmentação política e crescimento da extrema direita.
A formação do novo governo CDU-SPD foi viabilizada após meses de instabilidade política. Em dezembro de 2024, o presidente Frank-Walter Steinmeier dissolveu o Bundestag depois que o então chanceler Olaf Scholz perdeu uma moção de confiança. O colapso da coalizão "semáforo" — formada por SPD, Verdes e FDP — foi ocasionado pela demissão do ministro das Finanças Christian Lindner (FDP), que deixou o governo em meio a impasses com Scholz sobre a política fiscal.
Sem apoio suficiente no parlamento, Scholz convocou eleições antecipadas, realizadas em 17 de fevereiro de 2025. O pleito terminou com o bloco CDU/CSU em primeiro lugar, o AfD em segundo e o SPD em terceiro. Diante da pressão social contra a extrema direita – que havia crescido fortemente em 2024 e chegou a liderar governos regionais como na Turíngia –, os partidos tradicionais mantiveram o Brandmauer e se recusaram a negociar com o AfD.
Apenas agora CDU e SPD fecharam um acordo para formar uma coalizão, opção que havia sido descartada nos anos anteriores, mas considerada necessária diante do cenário fragmentado.
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