Em março de 2024, Sergipe aderiu ao Programa Mais Genética no Sertão, com objetivo de permitir a pequenos produtores de caprinos e ovinos o acesso a inseminação com sêmen das melhores raças, além de receberem apoio logístico da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). Após um ano, com o apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), os resultados positivos modificaram a realidade desses produtores.
O programa promove o melhoramento genético dos rebanhos de caprinos e ovinos no estado, aumentando a produtividade e qualidade dos produtos derivados diretamente desses animais. Foram 185 inseminações em um ano, com percentual de 22% de prenhez, a partir de uma parceria entre a Conafer e a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro). São atendidos criadores dos municípios de Nossa Senhora da Glória, Poço Verde, Porto da Folha, Simão Dias e Tobias Barreto.
Mais do que os números, porém, são as histórias que mostram a mudança de realidade dos pequenos produtores, a partir da iniciativa. É o caso de José Hamilton Araújo, produtor no município de Simão Dias. Há 40 anos na área, ele ressalta o apoio constante da Emdagro, e como o Mais Genética no Sertão tem impactado diretamente seu trabalho. “A Emdagro dispensa comentários porque, desde o início, temos benefício com ela. Está sempre nos ajudando, resolvendo os problemas, orientando em relação aos animais, alimentação e roça. E essa nova parceria foi uma maravilha. Melhora a qualidade, a produtividade do que estamos fazendo, e a venda, também. Recentemente, vendi uma criação por um valor maior. Tudo isso traz bons resultados para nós”, exalta José Hamilton.
O produtor faz parte de um assentamento em Simão Dias, com cinco produtores que possuem 80 animais ao total. Um deles é Antônio Claudiomiro, que também foi beneficiado. “A Emdagro veio, aqui, antes, já começou todo o processo e, agora, deu início à inseminação. É algo caro e esse auxílio ajuda bastante a gente. Sozinhos, não iríamos conseguir. Estamos fazendo agora para lucrar lá na frente. Só temos a ganhar”, pontua.
Processo de inseminação
Para que a inseminação seja realizada, existe um conjunto de regras a serem seguidas. O produtor deve ser dono de, no máximo, 50 cabeças, além de ter o seu rebanho vacinado contra a clostridiose, conhecida como ‘doença dos sete males’. A Emdagro proporciona a vacinação, caso o produtor não a tenha em seu rebanho. O proprietário deve ir até o escritório local da Emdagro e apresentar atestado de vacina, cadastro feito na Emdagro, cópia da identidade e do comprovante de residência.
A técnica de Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF), utilizada há dois anos pelo Governo do Estado, acontece em três etapas. Na primeira, os técnicos vão até propriedades e fazem o diagnóstico, para identificar quais animais estão ‘limpos’ (não prenhes). Após oito dias, é retirado o implante para aplicação de novos hormônios, e, no décimo dia, é feita a inseminação. Após isso, em um período entre 45 e 60 dias, há o diagnóstico de gestantes, e os animais que não ficaram prenhes passam novamente pelo processo.
“O processo propõe a inseminação em lotes, o que é bom produtivamente porque o tem uma padronização de produção. Esse processo é feito por meio de um protocolo hormonal, proporcionando ao produtor que ele faça a inseminação nos seus animais com raças melhoradas. Todos os reprodutores são puro sangue, de produtores contratados pela Conafer", explica o médico veterinário da Emdagro, Maurício Kalil.
Além disso, há uma técnica específica de controle do animal, para que a inseminação aconteça da melhor forma possível. A Emdagro utiliza a técnica da tração cervical, que não necessita de procedimento cirúrgico, como detalhou o médico veterinário da Conafer, Esdras Medeiros. “Ela não pede anestesia, mas é preciso saber onde pinçar e tracionar. Usa-se a contenção física, ao invés de outras que pedem a sedação e o operatório. Isso evita que se machuque o animal".
Benefícios ao produtor
O objetivo de melhorar o rebanho por meio da inseminação artificial gera diversos benefícios aos pequenos produtores. De forma geral, o processo é caro, e estes produtores não possuem condições de arcar com os custos sozinhos em lotes. Por isso, o apoio do Governo de Sergipe chega em boa hora.
“Já calculamos que cada inseminação custa, em média, R$ 200 ao produtor. É uma ajuda de grande valor. A Emdagro, junto à Seagri e à Conafer, promove ao pequeno produtor algo que está longe dessa realidade. Sem os convênios que a Seagri fez, teríamos muita dificuldade em promover esse serviço. É algo fundamental”, frisa Maurício Kalil.
Há, também, o conhecimento gerado a partir desta iniciativa. A partir dele, não apenas os produtores aprendem etapas específicas, como os próprios especialistas entendem melhor as realidades de cada um deles. “Passamos conhecimento aos produtores, ensinando sobre controle de rebanho, aconselhamento reprodutivo, separação de lotes, entre outros, e aprendemos, também, conhecendo manejos diferentes, e entendendo que a realidade é diferente em cada propriedade”, pontua Esdras Medeiros.
Mas o principal é a melhoria da condição de trabalho e de vida dos pequenos produtores. Ao aderir ao Programa Mais Genética no Sertão, Sergipe beneficia diretamente estes trabalhadores, aumentando os lucros e modificando a realidade dos mesmos. “O programa busca atender a agricultura familiar, melhorar o rebanho com acessibilidade a quem não tem acesso fácil. Também traz um ganho futuro porque trazemos genética de fora, com uma heterogeneidade que melhora o rebanho. Todos têm a ganhar”, finaliza Maurício Kalil.
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