Wolfgang Münchau alerta para o impasse político na Alemanha após a eleição e as dificuldades do novo governo de Friedrich Merz
O analista político alemão Wolfgang Münchau publicou no portal UnHerd artigo intitulado “A Alemanha está presa em uma armadilha centrista”.
Ele analisa o resultado das eleições parlamentares e argumenta que o país continua sem direção, incapaz de enfrentar desafios como o declínio econômico, a ineficiência militar e a falta de liderança na Europa com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos.
O pleito marcou a pior derrota da história do Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, que obteve apenas 16,4% dos votos.
Já a União Democrata-Cristã (CDU) e sua sigla-irmã da Baviera, a CSU, venceram com 28,5%, abaixo da meta de 30%. Isso diminui a legitimidade do mandato de Friedrich Merz, novo chanceler. O resultado mais significativo, no entanto, foi o do partido de direita AfD, que ficou com 20,8%, tornando-se a principal força de oposição.
Münchau destaca que, devido ao compromisso da CDU/CSU de não se aliar à AfD, Merz não teve alternativa senão formar uma grande coalizão com o SPD, repetindo o governo de Angela Merkel.
O problema, segundo o autor, é que essa aliança já fracassou no passado: “falhou em lidar com as causas da desindustrialização, não atingiu as metas de gastos militares da Otan e se aproximou de Vladimir Putin ao aprovar os gasodutos no Mar Báltico”.
Além disso, “não resolveu a crise econômica da zona do euro e apoiou políticas migratórias que, no fim, ajudaram a ascensão da AfD”.
Outro fator inesperado foi o desempenho da legenda de esquerda Die Linke, sucessora do antigo partido comunista da Alemanha Oriental.
Considerado praticamente acabado após a saída de sua líder mais conhecida, Sahra Wagenknecht, o partido ressurgiu com 8,8% dos votos, superando a nova sigla de Wagenknecht, que ficou com apenas 4,97% e não conquistou representação no parlamento. Isso significa que, somados, AfD e Die Linke controlam mais de um terço do Bundestag, o que lhes dá poder para bloquear mudanças constitucionais.
Esse novo equilíbrio parlamentar ameaça diretamente os planos de Merz para aumentar o orçamento da defesa. Tanto a AfD quanto Die Linke são contra o reforço das Forças Armadas alemãs.
Münchau aponta que o verdadeiro impasse se dará em relação à chamada “freio da dívida”, regra constitucional de 2009 que limita severamente o endividamento público.
Para aumentos significativos no orçamento militar ou em infraestrutura, seria necessário cortar gastos sociais — algo politicamente inviável. A solução poderia ser uma reforma constitucional, mas, sem apoio de dois terços dos deputados, isso é impossível. E, agora, Die Linke detém o voto de minerva.
A recuperação do partido de esquerda é explicada, segundo Münchau, por sua nova liderança, incluindo a jovem política Heidi Reichinnek, que viralizou com um discurso no Bundestag contra a política migratória de Merz.
Isso conquistou eleitores mais jovens e prejudicou os Verdes, que perderam apoio ao sinalizar disposição para integrar o governo de Merz.
No fim, Münchau argumenta que a Alemanha está politicamente paralisada: “A Alemanha está se dividindo entre esquerda e direita, com o centro espremido no meio”.
Ele prevê que a AfD pode ultrapassar a CDU/CSU nos próximos quatro anos, tornando inevitável um governo de coalizão entre os partidos de centro para barrá-la. Isso dificultará ainda mais a tomada de decisões, agravando a estagnação política e econômica do país.
O grande problema, segundo Münchau, é o mesmo que afeta a União Europeia: a necessidade de maiorias qualificadas para qualquer mudança significativa. Isso deveria proteger a estabilidade, mas, quando mudanças urgentes são necessárias, gera uma paralisia devastadora.
Wolfgang Münchau é um analista político e econômico alemão, conhecido por sua coluna no Financial Times e por seus artigos no UnHerd.
Cofundador do portal Eurointelligence, é especialista em política europeia e economia da zona do euro. Suas análises são frequentemente citadas em debates sobre o futuro da União Europeia e a crise econômica do bloco.
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