A cirurgia bariátrica, também conhecida como cirurgia metabólica ou de perda de peso, produz a maior e mais sustentada perda de peso em comparação com medicamentos – utilizados para tratar diabetes tipo 2 e obesidade – e intervenções no estilo de vida.
A informação foi divulgada pela American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (ASMBS), na Reunião Científica Anual de 2024 da organização, com base em revisões sistemáticas da literatura médica entre 2020 e 2024.
Dr. Rodrigo Barbosa, cirurgião bariátrico e especialista em Metabolismo do Instituto Medicina em Foco, afirma que os resultados apresentados corroboram a realidade que a ciência vem documentando há décadas.
“A superioridade da cirurgia é evidente ao se analisar dados de longo prazo. Para além da perda de peso, a literatura médica também reitera a menor incidência de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares em comparação com aqueles tratados apenas com medicamentos”, declara o cirurgião.
Segundo a entidade, foram analisados quatro ensaios clínicos randomizados conduzidos entre 2021 e 2024 que examinaram a perda de peso por meio de modificação do GLP-1s (Semaglutida ou Tirzepatida), enquanto as conclusões sobre modificações do estilo de vida foram baseadas em uma revisão sistemática de oito estudos.
Já a cirurgia metabólica e bariátrica (bypass gástrico e gastrectomia vertical) foram sujeitas a uma revisão de 35 estudos, incluindo dois ensaios clínicos randomizados. No total, os pesquisadores revisaram os resultados da perda de peso de aproximadamente 20 mil pacientes.
O especialista do Instituto Medicina em Foco esclarece que, embora novos fármacos tenham mostrado resultados promissores, ainda não se equiparam à cirurgia bariátrica em termos de eficácia a longo prazo, e que os remédios podem ser eficazes em alguns casos, mas dificilmente substituem a cirurgia em pacientes com obesidade grave.
“O mecanismo da cirurgia bariátrica vai muito além da simples restrição alimentar. Diferente dos medicamentos, que atuam modulando apetite e metabolismo de forma transitória, a cirurgia provoca mudanças fisiológicas e hormonais profundas e permanentes”.
Barbosa destaca que os medicamentos são mais indicados para pacientes com obesidade leve a moderada, enquanto a cirurgia continua sendo o “padrão-ouro” para aqueles com IMC acima de 35 kg/m² e comorbidades associadas.
“A mudança no comportamento alimentar, proporcionada pelo procedimento, tende a ser mais duradoura do que em pacientes que utilizam apenas medicamentos. Cerca de 85% dos pacientes que interrompem o uso da medicação recuperam todo o peso perdido em até dois anos”, aponta o especialista.
Principais efeitos da cirurgia metabólica
Dados apresentados pela revisão sistemática da ASMBS apontaram que os procedimentos de cirurgia metabólica e bariátrica bypass gástrico e gastrectomia vertical registraram, respectivamente, perda de peso total de 31,9% e 29,5%, um ano após a cirurgia. A perda de peso, de aproximadamente 25%, foi mantida por até dez anos após a realização do procedimento.
“Os motivos principais são as alterações hormonais permanentes e a mudança estrutural do trato digestivo. O corpo responde de forma diferente à fome e à saciedade, o que torna mais difícil recuperar o peso. Pacientes bariátricos apresentam uma nova microbiota intestinal, com melhora na metabolização dos alimentos e menor tendência a inflamações relacionadas à obesidade”, explica o cirurgião.
Conforme acrescenta Barbosa, o reganho de peso acontece em menos de 25% dos casos e, quando ocorre, geralmente é de 5% a 10% do peso perdido. “Pacientes operados apresentam um novo padrão de regulação do apetite, resultando em menor desejo por alimentos ultraprocessados e ricos em açúcar”.
De acordo com o especialista, a cirurgia reduz a secreção da grelina, o hormônio da fome, e aumenta os níveis de GLP-1 e PYY, responsáveis por prolongar a saciedade e melhorar o controle glicêmico. Além disso, no caso do bypass gástrico, há uma remissão do diabetes tipo 2 em até 80% dos casos nos primeiros anos, efeito nunca observado apenas com medicações, segundo o médico.
Barbosa reforça que deve-se considerar a realização da cirurgia bariátrica quando outras abordagens falham. “Estudos indicam que apenas 5% das pessoas com obesidade grave conseguem perder peso e mantê-lo apenas com dieta e exercícios”.
A cirurgia é recomendada para pacientes com IMC acima de 40 kg/m² (obesidade grave) IMC entre 35 e 39,9 kg/m² com comorbidades (diabetes, hipertensão, apneia do sono) IMC entre 30 e 34,9 kg/m² em casos selecionados, como pacientes com diabetes tipo 2 difícil de controlar.
“A obesidade não é uma questão de força de vontade — é uma doença metabólica complexa. Pacientes operados vivem, em média, 6 anos a mais do que aqueles que permanecem obesos. Portanto, a cirurgia bariátrica deve ser vista como uma ferramenta poderosa para reverter os impactos da obesidade na saúde e qualidade de vida”, alerta o médico.
A ASMBS alertou para a subutilização do procedimento cirúrgico como recurso no tratamento da obesidade grave e afirmou que deve a intervenção deve ser considerada mais cedo no processo da doença.
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