Michael Lind argumenta que a proteção industrial não é um erro, mas uma resposta necessária ao avanço da China.
O jornalista e acadêmico americano Michael Lind publicou no The Free Press um artigo intitulado Why Tariffs Are Good (Por que as tarifas são boas).
O texto rebate a ideia de que tarifas protecionistas são um equívoco econômico e defende que a reindustrialização dos Estados Unidos e de outros países exige barreiras contra importações chinesas.
Desde sua posse, Trump já impôs ou ameaçou tarifas contra China, Canadá e México, justificando ora como defesa de indústrias estratégicas, ora como ferramenta de pressão contra a imigração ilegal e o tráfico de drogas.
Lind critica a visão difundida pela “mídia tradicional agonizante” de que tarifas são sempre prejudiciais.
Segundo ele, governos da Europa, Canadá e Índia estão adotando medidas similares contra importações chinesas. “Eles não fazem isso por desconhecimento econômico, mas porque não querem ver suas economias desindustrializadas por uma enxurrada de importações chinesas subsidiadas.”
O autor cita o Canadá, que impôs uma tarifa de 100% sobre veículos elétricos chineses e sobretaxou aço e alumínio do país asiático.
A União Europeia elevou tarifas para automóveis chineses para até 35,3%, enquanto a Índia impõe tarifas de 70% a 100% sobre veículos elétricos importados.
Nos EUA, a política protecionista também foi adotada por Joe Biden, que em maio passado aumentou tarifas sobre semicondutores, baterias, metais raros e equipamentos médicos chineses.
A Casa Branca de Biden até zombou da primeira administração Trump por não ter ido longe o suficiente com suas políticas protecionistas”, observa Lind, citando um comunicado oficial do governo democrata.
O crescimento da China, segundo o autor, só foi possível porque empresas americanas transferiram sua produção para lá.
Hoje, o país asiático domina setores estratégicos: “Em 2023, a China foi responsável por cerca de 30% do valor agregado à manufatura global, enquanto os EUA responderam por apenas 16%.”
Ele destaca ainda que a China produz metade do aço bruto mundial, um terço dos automóveis e mais da metade dos navios comerciais. “O mercado americano de drones, inclusive os usados pela polícia, é 90% controlado pela chinesa DJI.”
Para Lind, a relação comercial entre China e EUA se assemelha à de um império manufatureiro com uma colônia repleta de recursos naturais.
Em 2023, os principais produtos exportados pelos EUA para a China foram soja e petróleo bruto, enquanto os chineses venderam equipamentos eletrônicos e peças de escritório.
“Se não erguerem barreiras comerciais, os países industriais acabarão reduzidos a fornecedores de commodities para a superpotência chinesa.”
Michael Lind é um escritor, professor e analista político americano.
Co-fundador do New America Foundation, já publicou livros sobre economia, história e geopolítica, com foco no declínio da classe média americana.
Seu trabalho examina as transformações do capitalismo global e a ascensão do populismo nos EUA.