Moradores dizem estar ''indignados'' e que foram ''iludidos' no processo de leilão do Holiday
“Um barco à deriva”. O termo define o sentimento dos antigos moradores do Edifício Holiday, em Boa Viagem, Zona Sul Recife, arrematado por R$ 21,5 milhões em um leilão realizado na manhã desta quinta-feira (20).
Os ex-proprietários dos apartamentos ouvidos pelo Diario de Pernambuco alegam que foram “expulsos” do antigo lar e que não tiveram voz desde 2019, quando o prédio foi desocupado.
Um problema que durou cerca de seis anos foi solucionado em apenas 25 minutos, tempo que o leilão ficou aberto para que os candidatos lançassem suas propostas. No entanto, o sentimento de solução não paira sobre as pessoas que moraram em um dos edifícios mais emblemáticos do Recife.
“Não temos perspectiva nenhuma, porque a gente não queria [a venda] nesse valor. A gente nunca teve voz, ninguém nunca chamou a gente para discutir alguma coisa do Holiday, ninguém nunca chamou a gente para dar opinião nenhuma. A gente acabou de entrar com um recurso essa semana. A gente queria pelo menos mostrar que somos donos e dar uma opinião”, lamenta a comerciante Kelly Correia, de 43 anos.
De acordo com ela, os antigos moradores do edifício não são contra a venda do prédio, mas acreditam que o valor pelo qual ele foi arrematado é “muito baixo”. “A moradia que nós tínhamos foi tirada. A gente não vai ter de volta e não vai dar para comprar nenhuma outra. Então não é justificável essa venda”, complementa.
“Não sou só eu. Muitos proprietários estão indignados com isso porque foram iludidos”, afirma Kelly. E, de fato, não é só ela que ficou inconformada com o jeito em que os processos de desocupação e leilão do Holiday ocorreram.
Mesmo com riscos de incêndio por conta das irregularidades no sistema elétrico, os antigos moradores não queriam deixar o local por não terem para onde ir e por não receberem apoio financeiro de nenhuma instituição ou órgão. Agora, o sentimento de incerteza é ainda maior, uma vez que os ex-proprietários alegam falta de “clareza” no processo.
“Eu estou sem saber praticamente de nada. Nós não temos informação, não temos advogado, não temos nada. Ninguém sabe o que está devendo, quanto está devendo e a quem está devendo. Acho que não existiu nenhuma situação dessa porque a prefeitura desapropriou e praticamente tirou moradia de quem tinha. Eu acho que foi tudo arquitetado para tirar a gente e deixar a gente sem nada mesmo”, conta o artesão Rosiel Gomes da Silva, de 53 anos.
“A gente ficou à deriva, não teve ninguém para nos apoiar, para nos orientar, para chegar e para conversar para dar um rumo e explicar qual a melhor opção”, afirma Rosiel.
A mesma sensação é compartilhada com o vendedor Fernando da Silva, de 43 anos, que morava com a mãe e os cinco irmãos no Holiday. Ele conta que a mãe não está mais viva e que não viu como o imbróglio do Holiday se resolveu.
“A interdição do Edifício Holiday não foi um processo de venda de apartamentos. Não pode vender nada a ninguém sem ter que passar pelos moradores. Deveria haver uma assembleia dos moradores concordando com a venda dos apartamentos”, relata.
Uma das poucas certezas que os antigos proprietários dos apartamentos do Holiday têm é de que ainda verão o imóvel de pé, mas não que terão a sensação de morar nele novamente.
De acordo com o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o valor arrecadado com a venda do prédio deverá ser utilizado para quitar eventual dívida trabalhista, pagar tributos sobre o imóvel, bancar eventual débito com concessionárias de serviço público, ressarcir o município das despesas com Administrador Judicial e pagar despesas com a perícia para aferir o valor de mercado do bem.
Apenas o valor que sobrar será destinado para os antigos proprietários ou aqueles que apresentem justo título documentalmente incontroverso de propriedade.
Futuro do Holiday