Os dois militares foram denunciados em fevereiro deste ano, quase sete anos após o desaparecimento da vítima.
Dois policiais militares acusados de sequestrar, matar e sumir com corpo de um homem em 2018, em Fortaleza, agora são alvos de uma apuração administrativa na Controladoria Geral de Disciplina (CGD). O órgão instaurou conselho de disciplina contra o cabo Sebastião Mikhail de Sousa Rodrigues e o soldado Jediel Costa Marcelino da Silva.
A CGD apura se a dupla deve ou não permanecer na Corporação. Quase sete anos após o desaparecimento de José Tiago Ferreira Teobaldo e depois de diversos pedidos de diligências, o Ministério Público do Ceará (MPCE) denunciou a dupla de militares.
Em fevereiro deste ano o MP apresentou a acusação relacionada aos crimes de associação criminosa, homicídio e ocultação de cadáver. Segundo o promotor, no dia 29 de março de 2018 a vítima estava em companhia do advogado no bairro Bom Futuro, em Fortaleza, foi abordada e arrebatada pelos PMs e outros homens ainda não identificados em um crime configurado como 'queima de arquivo'.
Kaio Castro, advogado de Sebastião, diz que "todas as provas são favoráveis à defesa e, muito embora tenha sido preciso cerca de sete anos para iniciar o processo disciplinar e judicial, agora a defesa irá exercer o contraditório e a ampla defesa, além de aguardarmos que a Justiça seja feita em todas as esferas".
A defesa de Jediel também foi procurada, mas não se posicionou até a publicação desta matéria.
O Ministério Público afirma que a vítima estava em um bar quando Jediel, Sebastião e outros homens agiram "de comum acordo e identidade de desígnios para o homicídio consumado". Teobaldo foi surpreendido com a chegada de um veículo Gol, branco, com quatro ocupantes.
"Do automóvel desembarcaram os acusados Sebastião Mikhail (trajando boné, camisa cinza e calça jeans, desceu pela porta traseira esquerda), Jediel (vestindo blusa amarela e calça jeans, desceu pela porta dianteira direita). Um sujeito não identificado, vestindo camisa cinza com grafismos em amarelo e calça jeans, desembarcou pela porta traseira direita. Por último, o indivíduo que usava um chapéu preto e uma camisa escura escrito "Polícia Civil" nas costas, estava guiando o carro e desceu pela porta dianteira esquerda"
Os denunciados teriam simulado uma abordagem policial e obrigaram a vítima a entrar na parte traseira do próprio carro, um Fiat Siena.
O advogado que testemunhou a cena disse que não acionou diretamente a Polícia, porque acreditava que localizaria a vítima por conta própria. Horas depois, sem sucesso em saber o paradeiro do amigo, as autoridades foram informadas sobre a ocorrência.
José Tiago nunca mais foi visto e nem seu corpo localizado. O carro dele foi encontrado abandonado dias depois, em Fortaleza. Para o MP, "somados aos demais elementos constantes nestes autos, infere-se que a vítima foi morta pelos acusados".
Conforme a denúncia, a vítima foi morta "em decorrência de uma 'queima de arquivo' devido uma relação perniciosa entre os acusados e a vítima. As informações presentes nos autos é que a vítima tinha relação com um grupo criminoso, enquanto os acusados, por sua vez, são mencionados como integrantes de um grupo miliciano que pratica extorsão contra criminosos".
O órgão acusatório diz ainda que o cabo Mikhail tentou forjar um álibi apresentando às autoridades uma foto sua na companhia de um casal de amigos "supostamente na mesma data e horários próximos ao do fato. Contudo, sem que seja apresentado o aparelho que fez a fotografia com a imagem original em sua memória, não é possível comprovar autenticidade da data em que foi tirada a foto de acordo com análise do hash do arquivo, não podendo ser considerada prova incontestável".
Em dezembro de 2024, foram decretadas as prisões dos suspeitos. A defesa alegou que a prisão preventiva foi decretada sem fundamentação concreta e recorreu da decisão. Em maio deste ano o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a prisão.