Um porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse à Reuters que seu hospital de campanha em Rafah recebeu 184 vítimas, das quais 19 foram declaradas mortas na chegada e oito morreram em decorrência dos ferimentos pouco depois. Um vídeo mostrou pessoas feridas, incluindo pelo menos uma mulher, sendo levadas às pressas para um centro médico em carroças puxadas por burros, antes de serem transferidas para macas ou ambulâncias.
O escritório de direitos humanos das Nações Unidas em Genebra afirmou nesta terça-feira que o impedimento do acesso à ajuda alimentar para civis em Gaza pode constituir crime de guerra, descrevendo os ataques contra pessoas que tentam acessar a ajuda como “inconcebíveis”. O chefe da agência da ONU, Volker Turk, pediu uma investigação imediata e imparcial sobre as mortes. “Os ataques dirigidos contra civis constituem uma grave violação da lei internacional e um crime de guerra”, declarou em comunicado.
A Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos EUA, lançou seus primeiros locais de distribuição na semana passada, em um esforço para aliviar a fome generalizada entre a população de Gaza, devastada pela guerra, a maioria da qual foi forçada a abandonar suas casas para fugir dos combates. A operação da Fundação, que atua independentemente dos grupos tradicionais de ajuda, foi alvo de duras críticas das Nações Unidas e de organizações de caridade estabelecidas, que afirmam que ela não segue os princípios humanitários.
O grupo privado, apoiado por Israel, informou ter distribuído 21 caminhões de alimentos no início desta terça-feira e enfatizou que a violência relatada não ocorreu dentro de sua área de atuação. “Essa é uma área muito além do nosso local de distribuição seguro e do nosso controle. Reconhecemos a natureza difícil da situação e aconselhamos todos os civis a permanecerem no corredor seguro ao se deslocarem para nossos locais de distribuição.”
Palestinos que coletaram caixas de alimentos nesta terça-feira descreveram cenas de pandemônio, sem supervisão na entrega dos suprimentos ou verificação de identidades, enquanto multidões se acotovelavam para obter provisões. “É um caos completo e uma humilhação, e as pessoas não têm escolha a não ser continuar vindo porque não há comida em Gaza”, disse um palestino que preferiu não se identificar, acrescentando que teve sorte de sobreviver aos disparos do lado de fora do centro de ajuda.