A Agência Internacional de Energia Atômica informou que o acúmulo de urânio altamente enriquecido aumentou quase 50%, chegando a 409 quilos nos últimos três meses.
O Irã produziu um volume recorde de urânio enriquecido pouco abaixo dos níveis necessários para armas nucleares, complicando os esforços para negociar uma resolução pacífica às preocupações internacionais sobre as ambições atômicas da República Islâmica.
Em seu primeiro relatório desde que a administração do presidente dos EUA, Donald Trump, iniciou negociações com Teerã, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que o acúmulo de urânio altamente enriquecido aumentou quase 50%, chegando a 409 quilos (902 libras) nos últimos três meses.
Esse volume de material poderia ser rapidamente enriquecido para formar o núcleo de cerca de 10 bombas nucleares, caso o Irã opte por seguir o caminho das armas.
“O rápido acúmulo de urânio altamente enriquecido é motivo de séria preocupação”, escreveu o diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi, no relatório de 22 páginas visto pela Bloomberg. “A agência não estará em posição de garantir que o programa nuclear do Irã seja exclusivamente pacífico.”
O relatório indica que ainda existem obstáculos significativos antes que o Irã possa dissipar as preocupações dos monitores internacionais que atualmente fiscalizam o programa nuclear do país. Mesmo enquanto os diplomatas de Teerã buscam uma détente nuclear com os EUA, autoridades iranianas continuam a obstruir uma investigação da AIEA sobre partículas de urânio detectadas em locais não declarados.
“A agência conclui que o Irã não declarou material nuclear e atividades relacionadas a material nuclear em três locais não declarados”, escreveu Grossi no relatório, que pode ser usado para encaminhar Teerã ao Conselho de Segurança da ONU.
Autoridades iranianas e americanas realizaram suas últimas conversas sobre as atividades atômicas de Teerã em Roma no início deste mês. Ambos os lados afirmaram que houve algum progresso, e Trump descreveu as negociações como “muito boas”.
O Irã abordou as preocupações sobre seu enriquecimento antes da publicação do relatório da AIEA. Embora a República Islâmica continue a rejeitar a busca por uma arma, não abrirá mão do enriquecimento de urânio, disse o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, em declarações transmitidas pela televisão estatal.
“Eles nos dizendo ‘vocês não deveriam enriquecer porque estamos preocupados’ simplesmente não é aceitável para o povo iraniano”, afirmou Araghchi. “É basicamente aceitar o domínio de outra pessoa.”
O conselho de governadores da AIEA se reunirá em 9 de junho, em Viena, para discutir as últimas descobertas. Países europeus deixaram em aberto a possibilidade de encaminhar o Irã de volta ao Conselho de Segurança da ONU, onde amplas sanções internacionais poderiam ser reimpostas.
Embora os monitores da AIEA — que continuam as atividades de verificação no terreno no Irã — não tenham “indicações credíveis” de que o país esteja escondendo trabalhos relacionados a armas, eles estão cada vez mais preocupados com os anúncios recentes.
“Declarações repetidas de ex-altos funcionários do Irã relacionadas à capacidade total do país para fabricar armas nucleares continuam a gerar preocupações”, escreveu a agência.
Enquanto o Irã também continua a produzir urânio enriquecido em níveis mais baixos, a preocupação internacional tem se concentrado em seu estoque crescente de 60%. Esse material poderia ser rapidamente elevado a níveis tipicamente usados em armas nucleares — uma preocupação antiga dos EUA, Europa e Israel.
O Irã sempre negou que seu desenvolvimento nuclear tenha fins militares, afirmando que o foco está na energia e na tecnologia civil.
Após retirar-se de um acordo internacional que limitava a atividade nuclear do Irã em troca do alívio de sanções durante seu primeiro mandato, Trump oscilou entre apoiar negociações e reviver uma chamada campanha de pressão máxima para enfraquecer a economia da nação do Golfo Pérsico.
Os preços do petróleo subiram temporariamente na semana passada após relatos de que Israel estaria se preparando para bombardear os sítios nucleares do Irã, potencialmente envolvendo os EUA em outro conflito no Oriente Médio.
O relatório da AIEA “apresenta um quadro sombrio que serve como um claro sinal de alerta”, disse o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em comunicado no sábado, acrescentando que a extensão das atividades de enriquecimento do Irã é “alarmante”.
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