O Hospital da Criança Dr. José Machado de Souza realizou uma roda de conversa com acompanhantes de pacientes internados para falar sobre o combate e a exploração sexual contra crianças. A ação foi em alusão a campanha nacional ‘Maio Laranja’ e teve como objetivo sensibilizar os familiares e acompanhantes de pacientes sobre os riscos, as consequências e a importância da rede de proteção em situações de suspeita ou abuso de violência sexual infantil.
Equipes de Serviço Social e Psicologia da unidade foram até as enfermarias no intuito de explicar a campanha. De acordo com Assistente Social do HC, Shyrlen Pacheco, o ‘Maio Laranja’ faz menção a um dos casos mais brutais de violência sexual infantil da história do Brasil e tem a intenção de disseminar informações para combater o crime e orientar sobre os canais de denúncia. “É um tema que é importante a gente falar, pois sabemos que ele acontece principalmente em âmbito familiar, cometido, muitas vezes, por pessoas próximas que tenham algum vínculo afetivo com a criança”, alerta.
Atenta às orientações da equipe do Hospital da Criança, a mãe de paciente e dona de casa Claudinete Ferreira, considerou a importância de difundir as informações. “Quem tem filho tem que ficar muito atento às coisas, não podemos confiar cegamente nas pessoas. O meu menino, mesmo, só saí com minha supervisão, não gosto que ele ande na casa de vizinhos ou fique solto na rua. Tem muito adulto mal intencionado por aí, que às vezes dá dinheiro ou doces para atrair as crianças. Eu não confio de jeito nenhum”, ressalta.
Quem também aprovou a iniciativa da equipe do HC foi a vendedora e mãe de paciente Cristina Lima. De acordo com ela, a conversa foi bastante útil. “Achei muito legal essa conversa. Deu para entender muita coisa e nos nortear de como agir nessas situações e a quem devemos procurar para denunciar”, completa.
Ficar atento a mudanças de comportamento repentino das crianças é fundamental para identificar um possível ato de violência sexual, é o que diz a psicóloga do hospital, Ivanesk Andrade. “Algumas mudanças são perceptíveis, outras não. Então, é importante um diálogo, um olhar mais atento a essa criança, com todo o manejo com ela. Comportamento de isolamento, dificuldade de alimentação repentina, restrição em contato com algumas pessoas específicas, é de chamar a atenção”, pontua.
Outro ponto citado por Ivanesk é com o cuidado com as crianças no momento do banho. “É muito importante que estejam atentos às partes íntimas, para que se observe se está ardendo ou vermelhada, pois é bem comum esses sinais em casos de violência sexual em crianças”, ressalta. Caso essa violência seja constatada, o próximo passo é acolher essa criança e fazer a denúncia nos órgãos competentes como: Conselho Tutelar, Delegacias especializadas ou comuns e disque denúncias. “Quanto mais cedo essa criança for acolhida e encaminhada para a terapia, menos sequelas ela terá. Caso essa vítima não consiga falar e não tenha tido acompanhamento psicológico durante a infância, há grande probabilidade dessa pessoa ter problemas com relacionamentos na fase adulta, resultado muitas das vezes por causa desse trauma na infância ou, ainda, ter sintomas emocionais como depressão ou crise de ansiedade quando se aproxima de alguém. As sequelas de um abuso sexual são diversas”, enfatiza.
Atendimento
Entre os atendimentos do Hospital da Criança, estão os de criança que foram vítimas de abuso sexual. “Por sermos uma unidade de atendimento porta aberta para o público de 29 dias a 12 anos incompletos, recebemos demanda de crianças vítimas de abuso sexual. Enfatizamos que esse é um crime que não só acontece com meninas, mas, também, com meninos e está cada vez mais crescente. Os casos chegam à unidade de forma espontânea ou encaminhada por outros serviços de saúde. Deve-se asseverar que, em algumas situações, a violência sexual não é a causa principal que leva o responsável a buscar o atendimento de saúde para a criança; essa situação é percebida na triagem inicial ou durante o tratamento da criança na unidade”, explica a assistente social do HC, Shyrlen Pacheco.
A assistente social completou que, ao ser apurada a suspeita ou a constatação da violência são preenchidas as fichas de notificação Sistema de Aviso Legal por Violência, maus tratos ou Exploração contra criança e o adolescente (Salve) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). “A família é acolhida pela equipe multidisciplinar e é informada sobre a rede de proteção, bem como sobre a importância de registrar o boletim de ocorrência para iniciar o processo legal de responsabilização do agressor”, aponta.
Caso a violência sexual tenha acontecido há menos de 72 horas, o médico responsável pelo atendimento administrará a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) de risco e, posteriormente, a criança será regulada ou encaminhada para o Centro de Referência no Atendimento Infantojuvenil (Crai) para um acompanhamento especializado. Já em casos crônicos, com mais de 72 horas, serão realizadas as notificações e as orientações pela equipe multidisciplinar, e a documentação da criança será encaminhada por e-mail, na intenção de agendar atendimento e posterior acompanhamento especializado pela equipe multidisciplinar do Crai.