Cinco dos 21 republicanos do Comitê de Orçamento da Câmara votaram contra a proposta, avisando que devem continuar a negar apoio a menos que o presidente da Câmara, Mike Johnson, concorde com mais cortes no programa de saúde Medicaid para norte-americanos de baixa renda e com a revogação total dos cortes de impostos sobre energia verde implementados pelos democratas.
Da forma como foi redigido, o projeto de lei acrescentaria trilhões de dólares à dívida de US$ 36,2 trilhões do governo federal na próxima década.
A votação do projeto deve configurar um revés temporário para a medida em um Congresso controlado pelos republicanos de Trump que até agora não havia rejeitado nenhuma de suas propostas legislativas e pode atrasar os planos de votação no plenário da Câmara na próxima semana.
Os republicanos estão divididos entre a linha-dura, que encara o pacote como sua melhor chance de cortar gastos, e os republicanos mais moderados de distritos competitivos, que alertaram que cortes de gastos mais profundos em programas da rede de segurança social podem colocar em risco a maioria republicana da Câmara de 220 a 213 cadeiras nas eleições de meio de mandato de 2026.
O presidente do Comitê de Orçamento da Câmara, Jodey Arrington, enfatizou a importância da legislação para os eleitores que escolheram Trump para a Casa Branca e deram ao partido o controle total do Congresso em novembro passado.
“Eles querem políticas de bom senso. E querem de todos nós um compromisso de colocar os Estados Unidos e os americanos em primeiro lugar. Vamos dar às pessoas aquilo em que elas votaram”, disse o republicano do Texas.
Cheques
Os deputados republicanos Norman, Chip Roy, Andrew Clyde, Josh Brecheen e Lloyd Smucker juntaram-se aos democratas do comitê para votar contra a medida.
“Estamos preenchendo cheques que não podemos pagar e nossos filhos pagarão o preço. Portanto, sou contra esse projeto de lei, a menos que sejam feitas reformas sérias”, disse Roy, do Texas, ao comitê.
Os parlamentares esperam chegar a um acordo com Johnson para alterar o projeto de lei durante o fim de semana.
Roy, Norman, Clyde e Brecheen são membros do ultraconservador House Freedom Caucus, que mais tarde disse em uma postagem na mídia social: “Não vamos a lugar nenhum e continuaremos a trabalhar durante o fim de semana”.
Smucker disse que seu voto “não”, alterado de um “sim” inicial, foi uma manobra parlamentar destinada a garantir que a medida possa ser retomada assim que Johnson conseguir um acordo. Smucker manteve a esperança de uma nova votação na segunda-feira.
Se aprovada, a medida deve estender os cortes de impostos aprovados durante o primeiro mandato de Trump. O Comitê Tributário Conjunto bipartidário do Congresso estima que os cortes de impostos custariam US$ 3,72 trilhões ao longo de uma década.
Trump chamou a atenção para medidas que incluem a redução de impostos sobre gorjetas e horas extras que, segundo os republicanos, serviriam de estímulo para a classe trabalhadora, enquanto críticos afirmam que o projeto de lei vai oferecer mais benefícios aos ricos.
Ao condenar a legislação, os democratas avaliaram o projeto como um veículo para conceder reduções de impostos a bilionários, ao mesmo tempo em que citaram uma projeção de pesquisadores independentes do Congresso, alertando que os cortes propostos para o Medicaid e para o seguro de saúde privado subsidiado pelo governo federal, disponível por meio do “Obamacare”, poderiam levar levar 8,6 milhões de norte-americanos a perder a cobertura de saúde.
“Nenhum outro projeto de lei anterior, nenhum outro evento anterior fez com que tantos milhões de norte-americanos perdessem seu plano de saúde. Nem mesmo a Grande Depressão”, disse o deputado Brendan Boyle, principal democrata do comitê.
Os republicanos estão divididos entre três vertentes: os moderados de Estados liderados por democratas que querem aumentar a dedução federal para impostos estaduais e locais; os linha-dura que exige que uma dedução maior seja compensada por cortes mais profundos no Medicaid e pela revogação total dos créditos fiscais de energia verde; e outros moderados determinados a minimizar os cortes no Medicaid.
A proposta impõe requisitos de trabalho ao Medicaid a partir de 2029. A linha-dura quer que esses requisitos comecem imediatamente e pediu uma redução drástica nas contribuições federais para os benefícios do Medicaid disponíveis para as pessoas da classe trabalhadora por meio do Obamacare, opção veementemente rejeitada pelos moderados republicanos.