Geral Sergipe
Centro de Criatividade completa 40 anos de transformação social através da arte
Espaço cultural administrado pelo Governo de Sergipe conta com atividades de formação e desenvolvimento social
10/05/2025 19h21
Por: Redação Fonte: Secom Sergipe

A sergipanidade envolve principalmente a identificação, o pertencimento e integração com o local de vivência, e é, também, através da arte que esses vínculos se consolidam. No dia 10 de maio de 1984, nasceu o Centro de Criatividade,  localizado no bairro Getúlio Vargas, inserido na comunidade da Maloca, o primeiro quilombo urbano de Sergipe e o segundo do Brasil, fundado como espaço de formação artística, mas também de encontro e coletividade. Desde então, nesses 40 anos, o Centro, que é administrado pelo Governo do Estado, acompanhou as mudanças do território, acolheu diferentes gerações e se manteve como uma referência para quem encontra na arte um caminho de expressão. 

“O Centro de Criatividade é um espaço cultural comunitário. Oferecemos oportunidades para que pessoas de diferentes idades e contextos se conectem por meio de atividades culturais, artísticas e educacionais. Além de estimular o desenvolvimento de habilidades, o Centro fortalece o senso de pertencimento e cooperação, criando um ambiente inclusivo, onde o diálogo e a troca de experiência enriquece as relações interpessoais”, enfatiza o diretor do Centro de Criatividade, Wilson Júnior.

Da escuta comunitária à formação artística

A história do Centro de Criatividade começa com a escuta. Joana Angélica, primeira oficineira e uma das fundadoras do espaço, relembra como o projeto nasceu a partir do contato direto com a comunidade. “A comunidade era marginalizada, sofria muita violência e exclusão. Foi um desafio conquistar as pessoas. Saímos batendo de porta em porta, ouvindo o que cada um precisava, para que as oficinas realmente fizessem sentido”, relembra.

Joana destaca, ainda, a importância da professora Aglaé D’Ávila Fontes, a primeira diretora do Centro de Criatividade, neste processo. “A professora Aglaé mudou a trajetória da minha vida quando me trouxe para cá. Aqui, tivemos professores escolhidos a dedo, de música, teatro, dança, folclore, com projetos fantásticos, muitos realizados aos domingos. A ludicidade que trabalhamos durante muito tempo fez uma história muito bonita nessa comunidade”, destaca. 

O Centro também foi chão de experimentação para o teatro sergipano. Lindolfo Amaral, ator, diretor teatral e ex-diretor do espaço, acompanhou momentos importantes, como a reforma em 2018. “O Centro é um espaço muito importante para as atividades pedagógicas artísticas. Antes, a gente chamava de educação artística, mas, com o tempo, descobrimos uma nova forma de enxergar esse espaço: um lugar de caminhar e descobrir. Também montamos muitos espetáculos aqui, como a Ópera do Milho, de 1996, que faz parte da história do Centro e do estado de Sergipe. Estamos trazendo esse espetáculo de volta, abrindo a programação da Salva Junina deste ano”, conta.

De alunos para colabores

Essa trilha entre formação e pertencimento aparece, também, no relato de quem cresceu dentro do Centro de Criatividade. Rosivaldo Alves, conhecido como Vadico, é produtor cultural nascido na comunidade Maloca. “Sou filho desse bairro. Cresci e me desenvolvi nesse espaço cultural fazendo de tudo um pouco: teatro, capoeira, batuque, dança, entre tantas outras oficinas. E foi aqui meu primeiro trabalho. Essa unidade me norteou, me transformou em um homem com um direcionamento muito expressivo. A cultura é transformadora, traz muitos benefícios, e eu sou fruto desse investimento cultural”, pontua. 

O bailarino Gilson dos Santos, conhecido como Inha, também da comunidade da Maloca, cresceu frequentando o espaço e, hoje, como destaca com orgulho, é colaborador do Centro de Criatividade. “Sou daqui da comunidade, da Caixa d’Água. Sinto que preciso preservar esse patrimônio que é nosso, a nossa cultura. A gente não pode deixar morrer. Tenho o maior orgulho de fazer parte dessa família”, ressalta. 

Cultura presente em todos os espaços

O Centro de Criatividade segue em atividade, mantendo oficinas e projetos que atendem pessoas de diversas idades. Uma dessas oficinas é a de artesanato, coordenada por Maria Bethânia. “Desde 2019, conduzo um grupo com 25 mulheres. Aqui, elas produzem coletivamente, ensinam umas às outras e desenvolvem habilidades como crochê, bordado e pintura em tecido. Estamos em um território quilombola, e a produção artística é também um instrumento de sobrevivência”, completa.

A aposentada Ana Rita Menezes, de 73 anos, participa da oficina há três anos. “Aqui é bom demais. É arte, terapia, amizade. A gente compartilha tudo, até a comida. Quando se trata de arte, a gente tem mesmo é que agradecer.” Para ela, frequentar o Centro é uma forma de se manter ativa, sempre aprendendo. “Mesmo com chuva, eu venho. Faço reciclagem de bonecas, pintura, tudo que aparece. Espero que esses 40 anos se repitam por mais 40”, considera. 
 

Foto: Igor Matias
Foto: Marco Ferro
Foto: Marco Ferro
Lindolfo Amaral/Foto: Marco Ferro
Walter Junior/Foto: Marco Ferro