Ex-assessores de Trump dizem que isolar a China é chave para vencer a disputa global.
Matt Pottinger, ex-vice-assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, e Liza Tobin, ex-diretora para China no Conselho de Segurança Nacional, publicaram nesta quinta, 10, no site The Free Press, o artigo intitulado “China e América disputam o século 21”.
Eles descrevem a disputa entre Estados Unidos e China como um “divórcio” geopolítico com efeitos globais, e destacam como o ex-presidente Donald Trump está reposicionando sua política externa rumo ao rompimento definitivo com Pequim.
“Bem-vindos ao Grande Divórcio – uma separação turbulenta entre as duas maiores economias do mundo, com o resto do planeta em disputa como parte do acordo.”
A frase resume o tom do texto, que analisa a escalada das tarifas comerciais decretadas por Trump contra a China, elevadas para 125% – “com efeito imediato” – ao mesmo tempo em que o ex-presidente suspendeu temporariamente tarifas contra outros parceiros.
Segundo os autores, Xi Jinping tem ambições mais abrangentes do que Trump: “Para Xi Jinping… trata-se de uma disputa pela supremacia no século 21.”
Eles afirmam que, enquanto o presidente americano vê o conflito como uma guerra comercial, Xi enxerga uma “luta por poder global” que inclui avanços em inteligência artificial, domínio industrial e controle sobre Taiwan.
“O momento em que a China seria isolada como principal alvo da ira de Trump demorou, mas era inevitável.” Pottinger e Tobin relatam que Trump, inicialmente, acreditava ser possível equilibrar o déficit comercial com acordos bilaterais. Mas tudo mudou em 2020, após o impacto da pandemia de covid, quando o então presidente declarou: “Talvez seja hora de separar.”
Trump, segundo os autores, cogitou cortar relações com a China após considerar que “cem acordos comerciais não compensariam as perdas” causadas pela pandemia.
“Quando a covid chegou, aquilo foi o fim. Foi o ponto sem retorno”, teria dito Trump, segundo relato de Pottinger, que estava presente no Salão Oval.
Apesar disso, Pottinger e Tobin admitem que Trump pode ser imprevisível: “Seu instinto negociador pode se impor ao desejo de ruptura.” Um alívio parcial nas tarifas poderia, por exemplo, ser trocado por concessões estratégicas como a venda do TikTok.
Um “grande acordo”, entretando, está mais distante do que nunca, afirmam os autores. “Não existe acordo plausível que resolva o problema fundamental – o modelo econômico de Pequim é uma ferramenta para a dominação política global.” Xi Jinping, segundo eles, foi o verdadeiro artífice dessa encruzilhada histórica.
“Pequim já travava uma guerra comercial unilateral contra os Estados Unidos muito antes de Trump assumir.” Xi teria aprofundado práticas como roubo de propriedade intelectual, transferência forçada de tecnologia e subsídios industriais – arrasando a indústria americana.
O texto aponta que o conflito econômico é apenas parte de uma agenda ideológica mais ampla: “A guerra econômica de Pequim decorre do projeto ideológico maior de Xi – construir uma ‘comunidade de destino comum para toda a humanidade’.”
O objetivo de Xi seria normalizar regimes autoritários, enfraquecer valores democráticos e ampliar a influência global do Partido Comunista Chinês.
“Nosso embate com os países ocidentais é irreconciliável”, teria afirmado Xi em manual militar sigiloso.
Pottinger e Tobin destacam que Xi vê o domínio de tecnologias como a inteligência artificial como meio de vitória: “Controlar tecnologias críticas será o diferencial para transformar a sociedade e sustentar o poder militar e econômico.”
Eles alertam que o presidente americano talvez não compreenda a gravidade dessa disputa tecnológica: “É Xi quem dita o ritmo dos conflitos em tecnologia e geopolítica.”
Pequim, afirmam, está minando as restrições impostas por Washington sobre chips avançados e ensaiando movimentos para tomar Taiwan – “a peça imobiliária mais importante do mundo”.
“A questão de Taiwan é a mais importante de todas – Trump pode vencer a guerra comercial e ainda assim perder o século se Taiwan for anexada.”
O controle chinês sobre Taiwan comprometeria o acesso americano a semicondutores avançados – componentes vitais para a liderança tecnológica global.
A estratégia de Trump, ao cortar laços econômicos com a China, pode ser o início de uma nova política externa mais coesa: “O distanciamento da economia americana pode fortalecer a posição dos EUA em temas como tecnologia e Taiwan.”
Pottinger e Tobin sugerem que uma coalizão liderada pelos Estados Unidos – incluindo União Europeia, Japão, Reino Unido e Austrália – poderia exercer pressão real sobre a China: “Esses países representam 56% do consumo global, frente aos 13% da China.” Se coordenado, esse poder de compra se tornaria “alavanca geopolítica considerável”.
Eles lembram que Trump não começou essa guerra comercial, iniciada quando Pequim entrou na Organização Mundial do Comércio prometendo abrir seus mercados, mas usando o sistema a seu favor: “Trump pode encerrá-la em termos favoráveis se isolar a China com apoio dos verdadeiros mercados do mundo.”
Nas palavras do secretário do Tesouro, Scott Bessent, citadas no texto: “Provavelmente podemos chegar a um acordo com nossos aliados – e então podemos abordar a China como um grupo.”
O artigo termina sugerindo que, mesmo que não de forma deliberada, Trump pode acabar tomando a decisão estratégica certa: “Se conseguir, ele terá uma excelente chance de vencer a disputa do século.”