Nova York, 07/04/2025 - A resposta retaliatória da China às tarifas anunciadas na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou ainda mais os riscos de recessão na maior economia do mundo e ampliou as incertezas sobre as futuras decisões de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
A China anunciou na última sexta-feira (4) que vai taxar os produtos americanos com uma alíquota de 34%, mesmo patamar que Trump anunciou na última quarta-feira para produtos chineses.
O anúncio, feito na esteira do "Dia da Libertação" de Trump, ofuscou dados do mercado de trabalho americano melhores do que o esperado em março, com analistas chegando a antecipar um maior corte de juros pelo Fed neste ano como resposta aos efeitos econômicos da guerra comercial global desencadeada pela taxação vinda de Washington. Neste caso, os cortes de juros seriam uma forma de evitar que a economia americana entre em recessão.
Em março, os EUA criaram 228 mil empregos, bem acima das projeções de analistas consultados pelo Projeções Broadcast , que esperavam entre 90 mil e 180 mil novas vagas, com mediana de 140 mil.
"O relatório de emprego de março pode ter sido um pouco mais forte do que o esperado, mas não o suficiente no atual contexto volátil para mover a agulha", diz o economista-chefe do Santander para os EUA, Stephen Stanley.
Investidores de Wall Street receberam os dados como um reforço do ímpeto da economia americana, mas a sensação dos economistas e operadores é de que representam um olhar pelo retrovisor diante dos efeitos esperados com as tarifas de Trump, que entraram em vigor no último sábado (5).
Investidores globais estão preocupados que a guerra comercial global sucumba a economia global e americana à recessão, temores esses que foram reforçados pela resposta chinesa. O JPMorgan elevou para 60% de 40% os riscos de uma recessão no mundo e nos EUA. Antes, o Goldman Sachs também já havia feito o mesmo movimento.
"Tarifas amplas, se mantidas, aumentam significativamente a probabilidade de uma recessão na economia dos EUA e no mundo", alerta o economista-chefe do Morgan Stanley, Michael Gapen.
Segundo o banco americano, a tarifa efetiva sobre as importações dos EUA pode subir para 22%, níveis não vistos em um século. É mais do que o dobro da alíquota que o Morgan Stanley previa para este ano.
O tarifaço de Trump surpreendeu até mesmo a Eurasia, uma das casas mais pessimistas quando o assunto eram as tarifas. A consultoria projetava uma tarifa efetiva dos EUA de até 14% como resultado do 'Dia da Libertação'.
"O presidente Trump está querendo criar uma muralha tarifária com a visão de que é possível criar um ciclo de reindustrialização, utilizando as receitas das tarifas para poder reduzir impostos", diz o diretor da Eurasia Group para as Américas, Christopher Garman, em entrevista ao Broadcast .
Segundo ele, as tarifas anunciadas por Trump podem ser reduzidas à frente, caindo para um patamar médio de 15% a 20%, mas não menos do que isso. Garman não vê disposição do republicano em negociar as alíquotas anunciadas com os seus parceiros comerciais, como o próprio já sinalizou, e conta que a Eurasia também está revendo os seus cálculos quanto aos riscos de os EUA entrarem em recessão à frente.
Investidores interpretaram o cenário de profundas incertezas como a possibilidade de o Fed ser mais agressivo no corte de juros como uma forma de aliviar o impacto da guerra tarifária na maior economia do mundo.
Mas, desde a sexta-feira, as expectativas de um corte total de 1 ponto porcentual em 2025, como vinha sendo apontado anteriormente, voltaram a ser majoritárias, segundo levantamento da plataforma CME Group.
Um dos motivos que ajudou a calibrar as expectativas dos investidores globais foram as falas do presidente do Fed, Jerome Powell. Ele afirmou que ainda é muito cedo para determinar qual é a política monetária apropriada para os EUA neste momento.
"É preciso monitorar. Acreditamos que estamos bem posicionados, mas a política monetária está modestamente restritiva", disse o presidente do Fed, reafirmando que o BC dos EUA não precisa ter pressa e que "há tempo". Os juros estão hoje entre 4,25% e 4,50% ao ano.
Trump, por sua vez, tem ampliado a pressão sobre Powell em torno de cortes de juros. Em publicação na rede Truth Social nesta segunda-feira, o republicano apontou a queda nos preços do petróleo e dos rendimentos dos Treasuries (títulos de dívida dos EUA) e pediu para que o Fed corte juros.
Para o economista-chefe do JPMorgan, Bruce Kasman, o Fed deve começar fazer cortes nas taxas somente no meio do ano. Ao menos até aqui, a expectativa mais provável é de que o BC dos EUA volte a reduzi-los em junho.
"E, se realmente estivermos em recessão, eu acho que é razoável considerar que o Fed se mova pelo menos 200 pontos-base nos próximos 12 meses", disse o economista do JPMorgan, em conversa com investidores, nesta sexta-feira.
O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, rebateu os temores de recessão emanados por Wall Street por causa das tarifas de Trump. Conforme ele, não há nada na maior economia do mundo que aponte nessa direção. "Wall Street já se deu muito bem, mas agora é a vez da 'main street'", disse, referindo-se à economia real.