Centenas de manifestantes tomam às ruas do país nos maiores protestos desde o movimento de Gezi, que nasceu na praça Taksim em Istambul em 2013; estopim das manifestações foi a prisão do prefeito de Istambul.
As autoridades da Turquia atacaram, nesta quinta-feira (27) os meios de comunicação da oposição para tentar frear as mobilizações surgidas após a prisão do prefeito de Istambul, principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan.
A ação acontece em meio a protestos que multitudinários que sacodem o país desde o dia 19 de março. Esse são os maiores desde o movimento de Gezi, que nasceu na praça Taksim em Istambul em 2013. As tensões aumentaram depois que a polícia prendeu diversos jornalistas turcos, entre eles um fotógrafo da AFP. As autoridades também expulsaram um jornalista da BBC após acusá-lo de ser “uma ameaça para a ordem pública”.
A prisão dos jornalistas turcos suscitou condenações internacionais. “É crucial que os jornalistas possam fazer seu trabalho livres de qualquer ameaça de violência, assédio ou intimidação, para garantir que os cidadãos tenham acesso à toda informação”, afirmou um porta-voz da Comissão Europeia.
O estopim das manifestações, que acontecem em meio a proibição, se deu após a prisão, na semana passada, do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal rival de Erdogan. Durante esse mesmo dia, 10 jornalistas presos no início da semana acusados de terem participado dos protestos maciços, foram colocados em liberdade em Istambul e Esmirna, segundo seus advogados e um sindicato de jornalistas. Entre eles está o fotógrafo da AFP Yasin Akgül, que foi libertado de uma prisão de Istambul, embora seu advogado diga que as acusações contra ele não foram retiradas.
Akgül, de 35 anos, foi detido na manhã de segunda-feira em sua casa, e um tribunal de Istambul ordenou sua prisão preventiva um dia depois, acusado de “participar de manifestações e marchas ilegais”. “Como fotojornalista de uma agência de notícias internacional, minha prisão em uma batida policial ao amanhecer, na frente da minha família e dos meus filhos, foi completamente ilegal. Eu estava apenas fazendo o meu trabalho”, disse ele ao sair da prisão. “Nesses quatro dias, só pensei na minha família e em voltar ao meu trabalho. Essa prisão teve como objetivo nos impedir de tirar fotos no local”, acrescentou.
Manifestantes se reúnem nas ruas durante um protesto contra a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, em Ancara, Turquia │NECATI SAVAS/EFE/EPA
O tribunal ordenou sua libertação nesta quinta-feira, juntamente com a de outros seis jornalistas, de acordo com a associação turca de defesa dos direitos humanos MLSA. Segundo o advogado de Akgül, ele está sob liberdade incondicional, mas as acusações contra ele “não foram retiradas” e a investigação segue em andamento.
O jornalista, pai de dois filhos, foi libertado da prisão de Metris pouco antes das 15h30 GMT (12h30 no horário de Brasília). O presidente da Agence France-Presse, Fabrice Fries, chamou sua prisão de “inaceitável”. Outro ato de repressão contra a imprensa, foi a proibição a emissão por dez dias do canal de televisão da oposição Sozcu, acusando-o de incitar em sua cobertura os protestos maciços que sacodem o país. A rede Sozcu TV “foi condenada a uma suspensão de programas de 10 dias”, escreveu em um comunicado o organismo turco de controle da radiodifusão, RTUK, apontando supostas infrações relacionadas à incitação ao “ódio e à hostilidade”. Se o canal for declarado culpado de outra “infração” uma vez que expire a proibição, a licença será revogada, acrescentou o RTUK.
Nesta quinta, o organismo turco de controle da radiodifusão, o RTUK, proibiu a emissão durante 10 dias do canal de televisão da oposição Sozcu por incitação ao “ódio e à hostilidade”, e anunciou ter sancionado outros três. Na capital, Ancara, estudantes de Medicina e alguns de seus professores se manifestaram nesta quinta contra a política do governo.
O Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), principal formação da oposição, fez um chamado para uma grande manifestação no sábado. O presidente Erdogan, que intensificou sua estratégia contra a oposição, deu a entender que novas investigações por corrupção poderiam ser abertas contra as vozes críticas e repetiu que não cederá ante “o terror das ruas”. As autoridades, que proíbem qualquer manifestação em Esmirna e Ancara, anunciaram nesta quinta a prisão de 1.879 pessoas desde o início dos protestos. Entre elas, 260 estavam na prisão ou em processo de encarceramento. Mais de 950 foram liberadas, das quais cerca de metade está sob controle judicial.