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Chacina de Paraisópolis: PM diz não ter visto moto em imagens gravadas
Testemunha desconhece fato de vítimas não terem recebido atendimento
19/03/2025 00h06
Por: Redação Fonte: Agência Brasil

O policial militar Rodrigo Cardoso da Silva prestou depoimento nesta terça-feira (18), na sétima audiência de instrução do caso conhecido como Massacre de Paraisópolis , em São Paulo, que resultou na morte de nove jovens no Baile da DZ7 , em 1º de dezembro de 2019 .

Silva integrava a equipe policial que diz ter sido atacada por uma pessoa a bordo de uma motocicleta.

No depoimento, o policial afirmou não se recordar de ver, em imagens gravadas, a motocicleta que teria sido usada para atirar na polícia .

Testemunha indicada por 6 dos 12 policiais acusados de homicídio, Silva alegou que foram exibidos a ele e colegas uma grande quantidade de materiais audiovisuais daquele dia e que não se lembra de ter visto o veículo nas imagens.

"Registro da moto, não cheguei a ver, mas é que mostraram muitos vídeos para a gente. Os vídeos que mostraram para a gente, acho que não eram nem do local. Muitas fotos mesmo e foto desfocada. Então, não dá para precisar se era a moto", disse, quando questionado pela defensora pública Fernanda Balera, em audiência virtual.

Na versão de Silva e dos demais policiais, o homem na garupa teria atirado contra a equipe policial. Na sequência, os agentes teriam perseguido a dupla até o baile funk.

Ao ser perguntado sobre o número de disparos, ele disse que foram "vários", mas que "não chegaram a 20" e que a arma de fogo era uma pistola.

Os policiais alegam que o pânico e caos no baile foi provocado pela entrada da motocicleta e que todo o efetivo da corporação foi hostilizado por pessoas que estavam na festa, que teriam lançado objetos como pedras, pedaços de madeira e garrafas.

A defesa dos agentes sustenta que uma segunda equipe se deslocou até o endereço do baile funk.

Única testemunha a ser ouvida nesta terça-feira, o policial também respondeu desconhecer o motivo pelo qual não foram prestados os primeiros socorros às vítimas . Há críticas que os policiais haviam identificado os feridos, mas nenhuma ambulância foi enviada ao local ou foi prestado atendimento. A vítima mais nova do massacre tinha 14 anos.

Iniciadas em julho de 2023, as audiências, realizadas no Fórum Criminal da Barra Funda, servirão para a Justiça definir se os 12 policiais acusados de homicídio irão a júri popular.

Uso de granadas

Após o massacre, presentes no episódio afirmaram que os policiais usaram armas de cano longo e granadas .

Em um dos depoimentos oficiais, foi negada a utilização de um morteiro , equipamento de guerra que lança granadas a curtas distâncias. A hipótese do uso chegou a ser levantada e refutada por uma testemunha da defesa e por advogados que representam os policiais.

Audiências

A próxima audiência, conforme anunciado, foi marcada para dia 6 de maio .

Há possibilidade, sinalizada hoje, de que a defesa dos policiais desista de ouvir uma das testemunhas previstas, o agente Vinicius José Nahol Lima, também da corporação. Inicialmente, 52 testemunhas foram arroladas, sendo 24 de acusação.

Em entrevista à Agência Brasil , uma das promotoras do caso, Luciana Jordão salientou que abrir mão de alguns depoimentos é visto como um sinal positivo pelas famílias das vítimas, já que pode acelerar o processo e chegar a um desfecho mais rápido . No caso da defesa, explicou, pode ter sido uma opção diante da repetição dos apontamentos feitos, de modo que trazer outras testemunhas não acrescentaria muito.

A promotora ressalta a importância do papel da imprensa em resgatar as informações já divulgadas sobre o episódio de violência. "Quanto mais distante fica o julgamento, mais as pessoas esquecem. Eles [os policiais e os advogados que os representam] querem que isso se distancie, caia no esquecimento mesmo", diz a promotora. "Vejo que as famílias têm sido firmes para manter a memória disso , uma memória muito importante. Não é uma memória só de um fato, mas de vítimas."

Na audiência anterior, de 31 de janeiro, a defesa argumentou sobre uma suposta inadequação do estabelecimento que promoveu a festa .

Relembre o caso

Em dezembro de 2019, uma ação da Polícia Militar em um baile funk na comunidade de Paraisópolis, zona sul paulistana, resultou na morte de nove jovens . Os policiais que participaram da operação afirmam que as mortes foram causadas por pisoteamento , resultado da confusão instaurada no local.

Um relatório elaborado pela Defensoria Pública de São Paulo contesta essa versão e aponta como causa da morte asfixia . A partir de exames periciais, o documento aponta que as vítimas teriam sido encurraladas em uma viela e sufocadas com o uso de gás lacrimogêneo.